[Resenha] O húngaro que partiu sem avisar

Autor: Marcelo Antinori
Páginas: 271
Editora: Lazuli
Quem era o húngaro que vivia no apartamento de baixo e desapareceu sem dizer aonde ia? A única pista que deixou foram alguns papéis escondidos em vinte e seis livros que guardava na estante. Será que o húngaro era apenas o professor de música ou teria sido um agente secreto? Aquela busca, que começou com uma simples curiosidade do arquivista da embaixada da França, acabou revelando um intrincado mistério que teria de ser desvendado para salvar a pacata Santa Clara Frente ao Mar.

Dois fatos sempre me animam a escrever para o blog, um deles é a resposta as minhas resenhas, me alegro muito quando comentam por aqui que uma recomendação minha entrou para a lista de desejados, ou quando discordam da minha opinião me fazendo ver a estória por outro ângulo. E o segundo fato é que de vez em quando sou surpreendida com a possibilidade de ler um livro que não estava na minha lista, tenho algumas resenhas aqui no blog em que cito como me encantei com livros que teriam passado desapercebidos por mim em uma livraria, mas acabei descobrindo quão legais eles são.

Esse é o caso de O húngaro que partiu sem avisar, um livro que usa personagens fictícios em uma cidade fictícia para contar, por exemplo, sobre o momento tenso vivido pela Húngria na Revolução de 1956 ou sobre a guerra fria na África com a influência direta dos Estados Unidos e União Soviética. Ou seja História de um jeito divertido.

O protagonista da estória é na verdade Bebéi, o arquivista da embaixada francesa na cidadezinha de Santa Clara Frente ao Mar, que acaba descobrindo por acaso que no apartamento abaixo do seu, viveu um húngaro que desapareceu há dez anos sem que ninguém prestasse atenção, o que para uma cidade pequena é bem incomum. Acontece que Santa Clara é uma dessas pequenas e tranquilas cidades turísticas, como outras que existem na vida real, cheia de personagens peculiares.

As pessoas que lá viviam ainda se cumprimentavam nas esquinas, tomavam sorvete na praça, compravam pipoca no carrinho, comiam pastel frito na calçada e muitas vezes ainda gritavam da rua para passar recados a janelas abertas de um segundo andar qualquer.

Então Bebéi começa a investigar quem é esse húngaro e por qual motivo ele simplesmente foi embora. É através desse mistério que conhecemos alguns dos pitorescos personagens da cidade, além da investigação acabar desencadeando a descoberta de outro segredo, os planos do prefeito para a transformação da singular cidade de Santa Clara. Então a população se reúne em busca de uma solução para salvar a cidade, e ao mesmo tempo em que tentam resolver o mistério do desaparecimento do húngaro.

– Será que ele foi assassinado ou será que se matou? – Pirilo comentava enquanto saboreava com prazer cada garfada que levava a boca. – Acreditar que ele simplesmente fechou o apartamento e desapareceu não faz o menor sentido. E tem mais: ninguém deixa as roupas no armário e louça para lavar na pia quando vai viajar.

Como eu disse no início da resenha, esse livro teria passado desapercebido por mim numa livraria, então já adianto: não percam a oportunidade de aprender um pouco de história enquantam prestigiam um delicioso livro de um autor nacional.

Para finalizar, a verdade é que por mais que eu tente negar, não costumo dar muita chance para a leitura de obras brasileiras, e quem perde sou eu mesma, pois na grande maioria das vezes a qualidade das publicações é inegável. Então essa resenha não é somente uma indicação de livro, é também uma ponderação pessoal sobre a literatura que eu leio, mesmo me considerando uma pessoa eclética.