[Resenha] Arco de virar réu

Autor: Antonio Cestaro
Páginas: 152
Editora: Tordesilha
Narrativa labiríntica escrita em primeira pessoa, Arco de virar réu descreve os eventos que marcam a deterioração física e mental do narrador-protagonista. Historiador social com forte inclinação para o estudo antropológico, ele é obcecado pelos rituais e pelos costumes dos índios tupinambás. A história começa com o surgimento dos primeiros sintomas de esquizofrenia em seu irmão, nos anos 1970, segue pela adolescência, quando, inspirado em rituais indígenas, o narrador passa a se dedicar à ocultação de cadáveres, e termina com a dolorosa percepção da própria loucura. Digressões delirantes misturam-se a fragmentos de memória e a pesadelos que, aos poucos, colocam em dúvida a própria existência.

Arco de virar réu é o segundo livro que eu leio do Antonio Cestaro, e a cada leitura fico mais fascinada por sua escrita. Ele consegue envolver o leitor não apenas com uma trama marcante, mas também pela forma de narrar, que é quase poética. Eu iniciei Arco de virar réu com receio de que fosse uma leitura mais lenta, mas me enganei, ela é muito fluída, e mesmo com palavras mais rebuscadas, é fácil entender o contexto. É impossível querer largar o livro até saber como será o desfecho.

O narrador é um historiador que adora a cultura indígena, precisamente os rituais e costumes dos tupinambás. Seus pais se separaram quando ainda era adolescente, e foi mais ou menos nessa mesma época que seu irmão mais novo, Pedro, apresentou sinais de esquizofrenia. Com o tempo percebemos que os diálogos e histórias que Pedro narra estão mais intensas. Em sua mente ele está no meio de conflitos militares entre índios, e com trechos de suas alucinações percebemos que ele se isolou nesse mundo só seu, o que faz com quem está fora não compreenda algumas de suas atitudes.

A história é narrada de forma rápida, e logo chegamos ao momento em que o próprio narrador mostra sinais de loucura. Sua doença o deixa cada vez mais incapacitado, o fazendo duvidar do que é real ou não, o que consequentemente, também faz o leitor duvidar de muitas situações e pessoas próximas. Será que sua esposa realmente existe? E Juca Bala, o tal primo que vê em Pedro um ótimo material para filmes?

Talvez esse seja um livro que nem todos gostem, pois de forma dinâmica o autor mostra um pouco da esquizofrenia, e Antonio consegue fazer isso de forma excepcional ao apresentar uma narrativa um pouco confusa, assim como a mente dos personagens. Eu realmente gostei bastante do que encontrei na obra, foi uma leitura diferente do que estou acostumada a ler.

É bastante difícil escrever essa resenha, pois a obra é densa, delicada e bastante reflexiva. Todos os personagens que aparecem são importantes ao enredo, foi bastante desafiador ficar na dúvida sobre quem era real ou não, ainda mais que no final não temos uma resposta concreta. 

A edição da Tordesilhas está maravilhosa, essa capa é muito linda, e a parte interna está muito agradável para ler. Recomendo a leitura!