sábado, 30 de janeiro de 2016

[Resenha] O centauro no jardim

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Autor: Moacyr Scliar
Páginas: 233
Editora: Companhia das Letras
No interior do Rio Grande do Sul, na pacata família Tratskovsky, nasce um centauro: um ser metade homem, metade cavalo. Seu nome é Guedali, quarto filho de um casal de imigrantes judeus russos. A partir desse evento fantástico, Moacyr Scliar constrói um romance que se situa entre a fábula e o realismo, evidenciando a dualidade da vida em sociedade, em que é preciso harmonizar individualismo e coletividade. A figura do centauro também ilustra a divisão étnica e religiosa dos judeus, um povo perseguido por sua singularidade.Guedali cresce solitário, excluído da sociedade, e o isolamento o leva a cultivar o hábito da leitura. Inteligente e culto, é ele quem conduz a narrativa, feita a partir do dia de seu 38° aniversário, comemorado entre amigos num restaurante de São Paulo.
O centauro rememora sua vida desde o nascimento em Quatro Irmãos, passando pela juventude em Porto Alegre, onde se casa com Tita – também centaura -, até chegar ao Marrocos, onde o casal vai tentar um cirurgia que os transforme em pessoas normais. Depois de inúmeros percalços, Guedali acaba voltando para São Paulo e o desenlace desconcertante de suas lembranças completa com profundidade essa narrativa provocadora. Neste romance traduzido para diversos idiomas e premiado mundialmente, Moacyr Scliar constrói uma narrativa a um só tempo realista e fantástica, na qual o drama vivido pelo centauro-protagonista reflete, em última instância, a busca do ser humano por sua verdadeira natureza, a luta do sujeito moderno contra a alienação. Publicado em 1980, "O Centauro no Jardim" traz de volta toda a maestria de um dos maiores escritores brasileiros da atualidade.


O autor Moacyr Scliar foi membro da academia brasileira de letras, e segundo a Wikipédia, o livro O Centauro No Jardim está incluído na lista dos 100 melhores livros de temática judaica dos últimos 200 anos, feita pelo National Yiddish Book Center nos Estados Unidos. Apesar disso, não esperem de mim uma leitura crítica, pois não sou esse tipo de leitora, meu objetivo não é analisar obras literárias. Clássicas ou não, leio apenas pelo prazer da leitura e foi o prazer de outras duas obras do mesmo autor que me levou a esse livro.

Como anuncia a sinopse, o livro vai nos contar a trajetória de Guedali, nascido no interior do Rio Grande do Sul e quarto filho de um casal de imigrantes judeus russos que tem na agricultura seu sustento, e apesar do choque do nascimento do filho centauro tentam criar ele da forma mais normal possível. 

Talvez seja uma coisa temporária, pensa meu pai, esperançoso. Como a mulher, ele também sabe de crianças que nasceram peludas como macaco – mas que ao cabo de alguns dias perderam os pelos. Quem sabe o caso é o mesmo? Seria de se esperar um pouco; então, os cascos cairiam, o couro se desprenderiam em grandes pedaços, deixando aparecer ventre e pernas normais.

E apesar do quase nulo contato com outros humanos fora a família, exceto a parteira que cuida do menino enquanto a mãe passa pela depressão pós-parto, o médico que analisa o bebê e não acha solução para o caso e o mohel, o homem que faz as circuncisões nos bebês judeus, seguem uma vida bastante normal. Ou seja, tão normal quanto possível nesse caso extraordinário.

Eu particularmente gostei bastante da estória, mas achei os personagens principais muito inconstantes e isso me irritou um pouco. Em um momento tudo parecia tranquilo, e de repente uma ânsia interna os fazia infelizes até que outra coisa acontecesse para mudar determinada situação.

Eu acabara de verbalizar uma ansiedade torturante, e isso, de certa forma me deixava calmo. E, se não radiante, ao menos modestamente alegre. Então, era isso o que eu queria: galopar de novo pelos campos, na plena posse de minhas quatro patas.

Pelo menos essa inconstância criou muitas confusões e permitiu muitas aventuras, que não parecem possíveis se você pensar que a vida adulta de Guedali se passa na década de 1950. 

Essa é minha terceira experiência com o autor, e se tivesse que colocar em ordem do melhor ao mais fraco livro dele, esse ficaria em terceiro. Não por ser inferior aos outros, mas por uma questão pessoal quanto ao assunto tratado nos demais livros do Scliar, adaptações de histórias bíblicas, que eu adoro.

Acredito que esse tipo de leitura não agradaria a maioria dos leitores mais jovens que consomem uma literatura mais moderna de editoras mais na moda – mais conhecidas por assim dizer. Não estou aqui me chamando de culta, longe disso, estou apenas destacando que é preciso ter um gosto mais eclético para curtir a estória de um centauro judeu que passa a infância e adolescência em uma fazenda no interior do Rio Grande do Sul e sua trajetória, suas aventuras e amores após se mudar com a família para a capital, Porto Alegre. Mas talvez esse seja justamente o ponto de partida para tirar você da sua zona de conforto literário.

10 comentários:

  1. Caramba, sou apaixonado por mitologia.Esse livro me deixou intrigado, que proposta interessante, tantos elementos incomuns, dos nomes aos acontecimentos. Gostei! É fácil achar esse livro pra comprar?

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    1. Oi Augusto, comprei esse no submarino em uma promoção, mas é edição de bolso.
      E o livro não é de mitologia, apenas tem um ser mitológico como protagonista. ;)

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  2. Dificilmente me interesso por mitologias, mas quem sabe um dia consiga ler, não seria agora de imediato, pois nao me despertou tanto interesse, mas a gente nunca sabe né.

    Beijos

    devoreumlivrooufilme.blogspot.com.br

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  3. Amei a resenha, gosto de mitologia mas confesso que ainda não estou preparado para uma leitura desse estilo, concordo com você que essa não é uma leitura para todos.

    Abraços, www.meninoliterario.com.br

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  4. Oi, Ana.
    Sempre bom ler coisas diferentes. Sair um pouco da nossa zona de conforto, como você mesma pontuou. Não conheço ainda o trabalho do autor, mas essa história em particular me chamou a atenção. Pensei que seria uma história mais mitológica, mas parece que a figura do centauro serve mais como uma metáfora, um símbolo dessa perseguição do "diferente". Legal :D

    Beijo,
    João Victor - De cabeça para baixo | All pop stuff

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  5. Oooi! Tudo bem?

    Adorei sua resenha. O fato de você não ter lido com esse olhar "crítico" como você mesma falou, faz com que seja muito melhor saber sua opinião. Não tenho muita paciência para aquelas resenhas mais tecnicas, que analisam cada virgula do livro e nos dão praticamente uma aula de literatura em forma de resenha. Não acho que esse seja meu estilo, de verdade, então não devo ler. Mas também curto adaptações histórias bíblicas, será que podia me falar o nome dos livros que você leu dele com essa temática? Devo dar uma chance a esses.

    Beijinhos, te espero lá no http://amendoasefelpices.blogspot.com.br/

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    1. Oi Amanda. Os outros dois livros são A Mulher Que Escreveu A Bíblia e O Manual da Paixão Solitária.

      Fico feliz que tenha gostado da resenha! 😊

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  6. OI!
    Apesar de não conhecer nada do autor, e nem o estilo que ele escreve, achei bem bacana eles usarem um cenaturo para fazer uma analogia aos judeus e o problema com a sociedade naquela época.
    Nesse momento eu não leria o livro, mas não descarto futuramente ;)

    www.gordinhaassumida.com.br

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  7. Oie
    não conhecia o livro mas parece ser uma bela dica para amantes do gênero, o enredo está mega interessante

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  8. Olá

    O que mais chamou minha atenção foi essa parte mitológica,concordo com você é um livro pra sai da zona de conforto mesmo,infelizmente não conhecia o autor e nem a obra dele,mas vou anotar a dica.

    Bjss

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