[Resenha] Melancolia

Autor: Jon Fosse
Páginas: 408
Editora: Tordesilhas
Lars Hertervig é um jovem norueguês quaker de origem pobre. Graças à ajuda de um mecenas, estuda arte em Düsseldorf, na Alemanha, mas padece com terríveis inseguranças, obsessões sexuais e delírios incapacitantes. Em uma prosa hipnótica, magnética, o dramaturgo e escritor norueguês Jon Fosse descreve em Melancolia um dia de crise e a sua repercussão anos mais tarde na vida do próprio Hertervig– e mais de um século depois na vida de um escritor inspirado pela obra do artista, que existiu de fato.

Melancolia, do autor norueguês Jon Fosse, é uma obra que me tirou totalmente da minha zona de conforto literária. Nunca havia lido uma história tão perturbadora e com uma narrativa tão diferente. Preciso confessar que logo que iniciei a leitura pensei em abandoná-la, mas virou questão de honra eu terminar o livro, e com muita calma, consegui fazer isso. E fiquei contente de não ter abandonado, pois a narrativa de Fosse pode ser completamente cansativa - posso até dizer chata -, mas a trama que ele criou é totalmente envolvente. Sua forma de narrar permite ao leitor entender a mente de uma pessoa louca, porém, criativa.

Lars Hertervig é um pintor talentoso, foi mandado para uma escola de Artes na Alemanha, lá consegue fazer o que mais gosta: pintar. Mas, já no início da narrativa percebemos que ele é alguém descontrolado. Tem uma obsessão pela filha da viúva que lhe alugou o quarto, Helene, e faz de tudo para ficar perto dela. Percebendo essa aproximação, mãe e tio ficam preocupados, pois a filha tem apenas 15 anos, assim, resolvem mandá-lo embora. Lars não aceita isso, como poderia ficar longe de sua querida Helene? E em seus momentos de devaneio, coloca na cabeça que ela própria que quer que ele vá embora. Há vários momentos em que uma pessoa fala algo, e ele entende outra coisa pior, o que só confirma que ele não está bem.

O livro é dividido em duas partes: essa primeira apresenta Lars já no ápice de sua loucura, sua obsessão por uma garota de 15 anos, e seu ódio por todos os pintores que não sabem pintar. Anos depois, vemos Lars em um manicômio, onde coloca a culpa em todas mulheres, aquelas putas, segundo ele. Lars já tem visões de Helene, como se ela estivesse ali com ele. É então que ele pensa que precisa fugir dali, pois ele precisa voltar a pintar e ir encontrar sua amada. Depois, há um capítulo em que apresenta um escritor que diz ser parente do famoso Lars Hertervig, e percebemos que ele próprio tem sua dose de melancolia. Escritor frustrado, ele consegue uma reunião com uma pastora, com o intuito de voltar para a religião. Na segunda parte, conhecemos a irmã mais velha de Lars. Oline nos conta sobre sua vida quando jovem e detalha um Lars por outra perspectiva. Já com idade avançada, com a memória ruim, ela relembra situações que fazem o leitor entender a história como um todo. 

Melancolia foi um livro que me surpreendeu bastante. A narrativa é cansativa e repetitiva, como podem ver no quote abaixo, mas a trama é interessante, eu mesma me vi grudada no que ia se desenrolar em vários momentos. O autor consegue prender a atenção do leitor de vez em quando, sendo fácil esquecer esse tipo de narrativa. Realmente o que mais me angustiou foi a forma de escrever de Fosse, mas é totalmente necessário, pois estamos dentro da mente de um artista transtornado. A obra tem uma escrita frágil, sendo necessário ler com calma e tempo.

eu estou deitado na cama, em meu terno de veludo roxo, meu fino fino terno, e não quero encontrar Hans Gude. Não quero ouvir Hans Gude dizer que ele não gosta de meu quadro. Quero simplesmente ficar na cama. Hoje não poderei suportar Hans Gude. Porque e se Hans Gude não gostar de meu quadro e o achar constrangedoramente ruim, achar que eu não sei mesmo pintas, e se Hans Gude com seus dedos finos coçar a barba e com seus olhos apertados me encarar e disser que eu não sei pintar, que meu lugar não é na Academia de Belas-Artes de Düsseldorf e, aliás, não é em nenhuma outra, caso lhe perguntem, e se Hans Gude disser que eu nunca poderei me tornar um pintor artístico?

Fiquei dividida entre  amor e ódio em relação a esta obra, e conclui que o que sobrou foi só amor. Eu amei poder ter uma experiência nova, que foi o que a leitura me proporcionou. Melancolia é uma obra que pode não agradar qualquer um, mas que mesmo assim eu indico para ler, pois mostra com profundidade a história de Lars, um pintor que de fato existiu, que foi transformada por Jon Fosse em uma ficção baseada em sua vida. Poético e sensível podem descrever este livro.  

A capa do livro é muito linda, eu achei que combinou bastante com o enredo. A editora Tordesilhas lançou uma obra espetacular. Foi difícil escrever a resenha de Melancolia, por conta de toda esta complexidade tanto da história quanto da narrativa, mas espero que eu tenha conseguido passar o principal para vocês, e se tiverem a oportunidade de ler não desistam da leitura!