[Resenha] The warriors

Autor: Sol Yurick
Páginas: 274
Editora: DarkSide
No livro, os guerreiros em questão são membros dos Dominators de Coney Island, acusados, injustamente, pelo assassinato do líder que tentava unificar as gangues. Jurados de morte, os Dominators não têm outra alternativa além de fugir, atravessando territórios inimigos sem nunca saber em que beco sombrio a Morte se esconde.
Inspirado nos então chamados delinquentes juvenis que Sol Yurick conheceu de perto ao trabalhar como assistente social, os personagens são anti-heróis de carne osso, capazes de atos de bravura e covardia com igual intensidade. Um retrato fiel dos conflitos de jovens à margem da lei durante uma época de contestação social, conflitos raciais e revoluções criativas.

Dos hippies ao hip-hop. De Tarantino à Armação Ilimitada. O cinema, os games, a música, a moda e a street art beberam dessa mesma fonte. É hora dos guerreiros originais reconquistarem seu território na cultura pop. Leia The Warriors e descubra por que esse romance, escrito há cinquenta anos, continua mais atual do que nunca.

The Warriors é o livro que inspirou o filme Os selvagens da noite (The Warriors), lançado em 1979. Confesso que eu desconhecia tanto da obra quanto do filme, tanto que quando eu recebi o livro achei que a história era sobre motoqueiros (?) - culpa da capa! -, mas quando eu iniciei a leitura, sim, eu nem li a sinopse, percebi que na verdade se tratava de gangues. A obra foi uma grata surpresa, nunca li algo tão cru e intenso, mas que ao mesmo tempo me fez repelir tudo que o autor escreveu. Sol Yurick criou uma história baseada em suas próprias experiências como assistente social, fazendo o leitor embarcar em uma narrativa marcada pela violência, sexo, pobreza, desigualdade social e machismo. Todos esses elementos nos proporcionam um enredo reflexivo e bastante crível.

The Warriors, como eu disse, tem como premissa gangues, e é a partir disto que acompanhamos o momento em que todas as gangues da cidade se reúnem para ter trégua e se unirem contra os Outros, aqueles que os discriminam. Ismael é chefe de sua gangue, e é quem convoca essa reunião. Com um discurso cheio de impacto, ele tenta convencer seus "irmãos" pela causa.

Agora somos todos irmãos. Não ligo para o que vocês digam. Eles querem nos fazer pensar que somos todos diferentes, então lutamos em gangues de negros, de brancos, de porto-riquenhos, de poloneses, de irlandeses, de italianos, de Mau-Maus e de nazistas. Mas a mão de ferro quebrava a cabeça de todo mundo na delegacia do mesmo jeito; e quando aquele juiz faz pouco caso da gente e nos manda para o Reformatório, ou à prisão na ilha Riker, ou à penitenciária, ele nos trata do mesmo jeito; eles nos tratam como se nós, um ou todos, tivéssemos a mesma mãe e eles fodem as nossas mães, e isso nos torna irmãos.

No entanto, estamos falando de gangues de jovens, todos com menos de vinte anos, e descontrolados. Mesmo o discurso de Ismael sendo promissor, por um esbarrão o caos se instala. As gangues não gostam uma das outras, e isso é motivo para todos brigarem entre si. A polícia é chamada, o que só gera mais revolta ainda, e no meio disso tudo, Ismael é morto. Vários jovens são presos e espancados pelos policiais, mas uma gangue consegue fugir, e como seu líder foi pego, Hector vira o "Pai" do grupo, os liderando para voltar ao seu território.

A trama fica por um bom tempo com os seis jovens tentando chegar ao próprio território, o que não é tarefa fácil, já que a polícia está atrás de todos jovens suspeitos e que estão andando em grupo, e também que já é quase de madrugada. Eles passam por grandes dificuldades, e não possuem controle nenhum. É nesta parte que tem uma das cenas que mais me chocaram e me irritaram, que é quando eles matam um homem - porque ele apenas os encarou -, e o estrupo coletivo de uma jovem. Apesar de ter me subido o sangue com algo tão cruel e desumano, eu entendo porque o autor retratou isso em seu livro: porque isso é real. Essa violência é verdadeira. Ele não falou mentiras.

No início achei a narrativa um pouco lenta, e só foi melhorar quando o grupo acaba se separando e o autor narra o que cada um está passando no momento, a leitura ficou mais fluida a partir daí, mas não ficou mais leve. The Warriors tem uma trama envolvente, é impossível não querer ler até o final, pois é inacreditável o que jovens fazem por liberdade. Me irritou profundamente a mania de eles quererem provar a masculinidade um para o outro, mas no fim, não senti raiva deles, apenas pena. Pena por eles não terem oportunidades na vida. Pena por serem imaturos e não entenderem como a vida funciona.

Sol Yurick criou uma trama bastante polêmica, e o final não é feliz, mas é satisfatório. Os personagens não são carismáticos, são só idiotas, então duvido que alguém se apegue a eles. The Warriors é um clássico, a obra conseguiu mostrar a realidade de forma crua. Acho que vale a pena a leitura. 

A edição da DarkSide está fabulosa. O livro é em capa dura e tem vários detalhes lindos por dentro. Apenas o que me incomodou foi o prefácio gigante antes de a história iniciar, sim, tinham informações importantes do autor como: experiências, de onde surgiu a ideia da obra, etc... Mas quase 60 páginas de prefácio é demais, eu já não sou fã de ficar lendo essa parte dos livros, então foi meio cansativo. Agora, para quem adora ler prefácios é um prato cheio. Recomendo a leitura!