segunda-feira, 5 de setembro de 2016

[Resenha] O papel de parede amarelo

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Autora: Charlotte Perkins Gilman
Páginas: 113
Editora: José Olympio
Este clássico da literatura feminista foi publicado originalmente em 1892, mas continua atual em suas questões. Escrito pela norte-americana Charlotte Perkins Gilman, ele narra, em primeira pessoa, a história de uma mulher forçada ao confinamento por seu marido e médico, que pretende curá-la de uma depressão nervosa passageira. Proibida de fazer qualquer esforço físico e mental, a protagonista fica obcecada pela estampa do papel de parede do seu quarto e acaba enlouquecendo de vez. Charlotte Perkins Gilman participou ativamente da luta pelos direitos das mulheres em sua época e é a autora do clássico tratado Women and Economics, uma das bíblias no movimento feminista. Esta edição de O papel de parede amarelo, que chega às livrarias pela José Olympio, traz prefácio da filósofa Marcia Tiburi.


Assim como comentei em uma resenha anterior, Flores, também sinto que este livro exige uma avaliação mais profunda do que eu me considero capaz de oferecer, afinal, segundo a capa, este é um clássico da literatura feminista. Mas diferente de Flores, O papel de parede amarelo conta com uma apresentação da Marcia Tiburi, uma autora brasileira e professora de filosofia, bem como um posfácio de Elaine R. Hedges, autora, professora e expert em Contribuições das mulheres americanas para literatura e artes. Ou seja, apesar das 112 páginas, o livro traz, tanto um conteúdo capaz de causar um mal-estar no leitor, quanto faz menção ao período histórico e político em que a autora viveu. E com essa “ajuda” da apresentação e posfácio foi possível para mim como leitora compreender o que Gilman estava apresentando, ao invés de simplesmente ver o livro como uma simples estória de delírio e perturbação à la Edgar Allan Poe.

O livro se trata de um conto que narra a estória de uma esposa que é levada pelo marido médico para uma casa de campo há muito desocupada, com a desculpa de que ela está psicologicamente doente e precisa de descanso. Já na casa, o marido os instala – contra a vontade da personagem – em um quarto que aparentemente foi uma antiga sala de brinquedos decorada com um papel de parede amarelo, rasgado em algumas partes, com desenhos abstratos, e que mais perturbam nossa protagonista, ao invés de ajudar nesse descanso.

A cor já é medonha o bastante, duvidosa o bastante e enfurecedora o bastante, mas o padrão é torturante. 

Durante o dia, enquanto seu marido trabalha e ela é cuidada por sua cunhada, a personagem se dedica a decifrar os desenhos do papel de parede e a escrever escondido em uma especie de diário, que o marido proíbe, pois segundo ele, essa atividade está lhe deixando mais doente. Mas, ficar trancada no quarto é o que parece a estar deixando mais doente.

No início fiquei incomodada. Pensei seriamente em atear fogo à casa – para destruir o cheiro.
Mas agora já me acostumei. A única coisa que consigo pensar é que parece com a cor do papel! Um cheiro amarelo.

Segundo o posfácio, a autora foi uma feminista ativa e o conto se baseia em sua própria estoria. Ela teve problemas de falta de afeição por parte dos pais desde a primeira infância, passou por um casamento infeliz em que desenvolveu um colapso nervoso e chegou a ser internada em uma instituição psiquiátrica em que as recomendações médicas condescendentes na época não passaram de, se dedicar ao lar e parar de escrever.

Particularmente, a narrativa da autora me lembrou sim os perturbadores contos de Edgar Allan Poe, mas esse não é apenas um conto biográfico, a critica que Gilman quis mostrar está focada na submissão feminina e na falta de direitos a que as mulheres eram submetidas no século XIX. 

Então se você não curte o tema proposto pela autora através dessa referência à liberação da mulher e seus direitos, não se preocupe, ainda pode simplesmente ler o livro como lazer e sentir arrepios com o nível de perturbação da personagem criada pela autora.

11 comentários:

  1. Olá,
    Parece ser uma obra bem densa. Gostei bastante da premissa do livro e acho que qualquer um enlouqueceria se fosse colocado no lugar dessa protagonista. Trancada em um quarto obrigada por marido e médico para tratar de doença!? É mais uma forma de dominação mesmo.
    Fico feliz que tenha esse embasamento histórico para nos situar.

    http://leitoradescontrolada.blogspot.com.br/

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  2. Uma temática bem interessante a ser debatida, talvez para ajudar "abrir" mais a mente de algumas pessoas. Já li vários textos, retratando sobre certas épocas, em que mulheres que eram à frente do seu tempo, acabavam tendo serias punições, pois mulheres em certas áreas não deveriam de forma alguma ser aceita.
    Gostei bastante da resenha, vou procurar adquirir ao livro, e saber mais sobre as situações que a personagem passou, que imagino, que não foram nada fáceis.
    O Pequeno Leitor

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  3. Oi
    Eu adoro estas histórias com um bom teor psicológico, leria este livro com certeza, gosto muito da proposta dele, não me importo por ser um livro forte, na verdade é bem isto que me agrada.

    Bj, Vanessa Meiser - Retrô Books
    http://balaiodelivros.blogspot.com.br/

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  4. Olá, Ana! Que bom ler a sua resenha! A referência à liberação da mulher e seus direitos é que de fato o que me conquista no livro. Já estou anotado para a leitura !

    BJs,
    Yohana Sanfer
    http://www.papelpalavracoracao.com.br/

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  5. Olá! Desde a primeira resenha que li, esse livro me interessou muito! Não apenas pela parte do transtorno da personagem principal, mas por esse viés feminista colocado de forma "diferente" do que costumamos ter acesso. Parece-me um ótimo livro, forte, lindo, suave e, ao mesmo tempo, super denso. Adorei a sua resenha e vou ler com certeza.
    Beijos!

    Karla Samira
    http://pacoteliterario.blogspot.com.br/

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  6. Olá. A temática desse livro é bem forte. Começando a ler sua resenha pensei que não gostaria, mas pensando bem seria ótimo ler um livro assim.
    Adorei sua comparação com o Poe, ele é um autor incrível, é se você fez essa comparação é pq com certeza o livro é muito bom.
    Ótima dica!

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  7. Olá Ana!
    Eu já ouvi falar muito a respeito dessa obra, mas ainda não tive a oportunidade de ler. Gosto muito de clássicos e acredito que essa seria uma leitura bem diferente das outras, já que traz temas bem interessantes. Vou esperar pouco pra ler, já que a história aparenta ser bem densa.
    Beijos.

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  8. Oi Ana, tudo bem?
    Eu tenho esse livro aqui e recebi junto com o "Vamos juntas", mas ainda não li. Eu te entendo e acho que também não sou capaz de oferecer uma avaliação crítica ou profunda sobre o tema. Mas tenho interesse em ler sim e pretendo fazer ainda esse ano.
    Espero gostar da leitura.
    Ótima resenha!
    Beijos

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  9. Oi Ana!
    Acho que essa é uma leitura muito válida, principalmente para nós mulheres. No entanto, eu teria que lê-lo num momento que eu estivesse bem leve, para compreender toda a carga que o livro traz e não me deixar abalar tanto.
    Beijo

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  10. Oi Ana,sua linda, tudo bem?
    É perturbador conhecer essas histórias, porque assusta saber que alguém é tratado dessa forma só porque é mulher. E achei muito estranho falarem para ela não escrever, quando hoje, é justamente o contrário, se recomenda um desabafo, uma libertação através de diários. Parece um enredo bem forte, não conhecia, mas agora não vejo a hora de ler. Sua resenha ficou ótima!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  11. Nossa, eu fiquei impressionada, com a história, se na resenha senti essa pegada forte imagina no livro? Raramente leio livros dessa temática, mas fiquei convencida e agora estou aqui querendo saber mais e descobrir cada um desses momentos tensos, sei que vou ficar envolvida e me arrepiar com essa história, que pelo que percebi, apesar de pequena é impactante! Enfim, gosto muito das resenhas do Apenas um Vício, sempre me convencem a ler livros diferentes!

    Da Imaginação à Escrita

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