[Resenha] Eleanor & Park

Autora: Rainbow Rowell
Páginas: 328
Editora: Novo Século
Eleanor & Park é engraçado, triste, sarcástico, sincero e, acima de tudo, geek. Os personagens que dão título ao livro são dois jovens vizinhos de dezesseis anos. Park, descendente de coreanos e apaixonado por música e quadrinhos, não chega exatamente a ser popular, mas consegue não ser incomodado pelos colegas de escola. Eleanor, ruiva, sempre vestida com roupas estranhas e “grande” (ela pensa em si própria como gorda), é a filha mais velha de uma problemática família. Os dois se encontram no ônibus escolar todos os dias. Apesar de uma certa relutância no início, começam a conversar, enquanto dividem os quadrinhos de X-Men e Watchmen. E nem a tiração de sarro dos amigos e a desaprovação da família impede que Eleanor e Park se apaixonem, ao som de The Cure e Smiths. Esta é uma história sobre o primeiro amor, sobre como ele é invariavelmente intenso e quase sempre fadado a quebrar corações. Um amor que faz você se sentir desesperado e esperançoso ao mesmo tempo.

Rainbow Rowell é uma autora que está fazendo muito sucesso aqui no Brasil, e eu já estava me sentindo um alien por, até então, não ter lido nada dela. Felizmente, ganhei em um amigo secreto de final de ano Eleanor & Park, e tive a chance de mudar isso. Confesso que li várias resenhas elogiando a obra, e isso realmente me deu mais vontade ainda de ler, mas não sei porque, acabei protelando... Então, coloquei como meta de abril ler o livro, sem falta! E imagina minha cara de tacho ao perceber o que eu estava perdendo, porque sim, a história é ótima! Iniciei a leitura e logo nas primeiras páginas a autora me prendeu, me fez dar muitos suspiros e me arrancou sorrisos. Fofo é pouco para o que o livro representa. Nem havia acabado de ler e já estava pensado que eu precisava das outras obras da Rainbow, e assim percebi realmente o motivo dela ser um sucesso!

Eleano & Park não é uma história de amor linda e perfeita, nem mesmo os personagens são assim - pelo menos aos olhos de outras pessoas -, o leitor encara algo intenso e difícil. Há bullying, há preconceito, há um lar abusivo e muito negação, mas também há amor. Um amor puro e doce, que inicia como me lembro da minha adolescência. A autora captou bem essa fase da vida e transformou em algo singelo, com uma pitada de drama e situações tristes e complicadas. A trama me partiu o coração várias vezes, mas também me mostrou que o amor nos faz aceitarmos quem somos. 

Eleanor é gordinha, tem um cabelo ruivo rebelde e se veste de modo nada usual para meninas. Park, é um "mestiço", coreano, meio afeminado para o pai, e que sempre tenta passar desapercebido. Os dois se encontram no ônibus escolar, quando Eleanor, a garota nova, entra com seu jeito esquisito, que o faz pensar que ela pede para caçoarem dela. E realmente Eleanor recebe vários xingamentos e olhares atravessados. Com um pouco de pena, Park acaba a deixando sentar ao seu lado. No início ele odeia sua presença e sua fraqueza ao ter sentido pena da garota. Porém, com o tempo, começa a surgir uma verdadeira amizade, que acaba virando algo mais... Eles percebem que têm muito em comum, e um acaba 'salvando' o outro de seu próprio mundinho.

A vida de Eleanor não é fácil. Ela passou um ano longe de casa, pois o padastro a expulsou e ela precisou morar com amigos da mãe. Essa parte foi o que mais me deu raiva, a negação da mãe. Precisamos acompanhar Eleanor tentando sair da vista do padastro, e fazendo tudo para não chamar a atenção. É uma vida cheia de medos: medo dele machucar a mãe mais do que já machuca, dele a expulsar novamente e fazer ela ficar longe dos irmãos, medo de tudo. Não bastasse isso, muitas vezes passa fome, usa roupas remendadas e não tem nem mesmo uma escova de dentes! Me perguntava que mãe faz isso com os filhos, mas sei que é mais normal do que parece.

Sempre que via Eleanor, ele não conseguia mais pensar em se afastar. Não conseguia pensar em mais nada.
A não ser tocá-la.
A não ser fazer qualquer coisa que pudesse ou tivesse de fazer para vê-la feliz.

Park vem de uma família mais centrada, mas nem por isso tem seus problemas. Ele precisa aguentar o pai elogiando seu irmão mais novo, e sempre mostrando que ele não é bom em nada. Claro que não se compara com tudo que Eleanor sofre, mas também é solitário, não se sentir incluído em nenhum lugar. Por isso que digo que um foi a salvação do outro. Park mostrou que Eleanor pode ser bonita e desejada, e a fez ter motivos para sorrir. 

A história tem uma pegada meio geek, com várias citações de HQ's e bandas famosas nos anos 80, eu achei muito fofo que tudo começou com Eleanor lendo de canto de olho os quadrinhos de Park. Quando ele percebeu isso, ele começou a ler mais devagar, e depois passou a deixar alguns no banco para ela levar para casa e ler... Me derreti de amores nessas partes! <3

Eleanor & Park é um livro que fala sobre aceitação, coragem e amizade. E por que não, amor? É algo que surge de conversas, gestos, e por isso é tão bonito. A leitura fluiu muito rápido e me fez ter um misto de emoções. Não conseguia desgrudar das páginas, a narrativa da autora é ótima, com o ponto de vista dos dois personagens, ela nos faz vivenciar diretamente os pensamentos, dramas e sentimentos de cada um. Sofri com aquele final, apenas... É daquele tipo que nos faz imaginar o que aconteceu depois, e confesso que fiquei com bastante raiva da autora por isso, mas mesmo assim achei a leitura toda maravilhosa. Tem seus clichês, mas e daí? Fazia tempo que não me envolvia tanto com uma história como essa. Amei tudo (menos o final!), e agora só quero ler os outros livros da Rainbow logo. Já estou sentindo falta de sua escrita leve e que envolve fácil o leitor. Recomendo!