sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

[Resenha] De profundis

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Autor: Oscar Wilde
Páginas: 208
Editora: Tordesilhas
Oscar Wilde já era reconhecido como um dos melhores autores de seu tempo quando foi condenado à prisão, em 1895. A acusação de “indecência grave” remetia à muito discutida homossexualidade de Wilde, considerada crime na época. Enquanto estava encarcerado, o autor escreveu uma carta a Lord Alfred Douglas, com quem mantinha uma relação que foi o estopim para sua prisão. Intitulada De profundis, a carta, amarga, traz uma reflexão a respeito da ética, com a linguagem de um grande escritor, um homem cuja vida não seria mais a mesma após os anos de encarceramento, mas cuja obra permaneceria por séculos como um cânone da literatura.


Então vamos falar de um autor clássico. Mas antes, novamente deixo claro que não oferecerei uma análise do livro como um clássico, pois não é meu objetivo e não possuo o conhecimento necessário para oferecer uma avaliação profissional.

Acredito que a obra mais conhecida do autor seja O Retrato de Dorian Gray – que a propósito, está na minha lista de desejados. Um dia eu chego lá – mas a questão é que eu não tinha ouvido falar do livro De profundis, até ter acesso através da editora Tordesilhas, e posso dizer que foi uma leitura incrivelmente satisfatória. Pois, apesar das palavras rebuscadas, é uma leitura de fácil compreensão e de sentimentos profundos.

O livro foi escrito enquanto Wilde estava preso, e na verdade é originalmente uma carta, endereçada a seu suposto amante Bosie, descrevendo suas vidas boemias e tudo pelo qual foi obrigado a passar por irresponsabilidade de Bosie. Todas as situações em que Wilde foi usado como instrumento para atacar o pai de seu amante, por quem o próprio filho tinha profundo ódio. 

Deliberadamente, e sem ser por mim convidado, você se lançou em minha esfera, usurpou ali um lugar para o qual não tinha direito nem qualificações, e servindo-se, por uma curiosa persistência e pela imposição de sua mera presença, de uma parte de cada dia separadamente, conseguiu absorver minha vida inteira e não foi capaz de encontrar nada melhor para fazer com essa vida do que parti-la em pedaços.

Segundo o autor, que teve seu talento como escritor de livros e peças reconhecido em vida, seu amante, que em minha humilde opinião era um sociopata, Bosie se aproveitou de sua fama e fortuna para afrontar e insultar o próprio pai. No início do livro Wilde está claramente magoado e utiliza a carta como um desabafo enquanto descreve todas as situações em que se deixou enredar em sua inocência, o que novamente em minha opinião, só pode ter sido um deslumbramento, não parece possível se envolver em um relacionamento neste nível sem enxergar o mal causado pelo amante antes que se torne tarde demais.

Como afirmei a ele em minha resposta, infelizmente gastei com você minha arte, minha vida, meu nome, meu lugar na história: e se sua família tivesse todas as coisas maravilhosas do mundo a sua disposição (…)
(…) isso não me indenizaria sequer em um decimo pelas coisas mais ínfimas que me foram tiradas, ou sequer em uma lagrima das menores lagrimas que derramei.

Para concluir, posso afirmar que essa foi mais uma leitura surpreendente, de um livro que eu protelei por meses justamente pela falta de segurança em ler uma obra escrita em 1897. E finalizada a leitura foi possível sentir até uma pontada de orgulho, por ter compreendido e sentido os sentimentos que Wilde quis transmitir. 

4 comentários:

  1. Já li alguns textos do Oscar Wilde, mas mais os teatrais, esse livro eu nem sabia que existia e não chamou muito a minha atenção. Que bom que a obra te surpreendeu, mas acho que prefiro ficar só com as ficções escritas por ele mesmo. Isso de ser uma carta escrita para o suposto amante, que você considerou um sociopata, não conseguiu despertar meu interesse.

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  2. Olá!
    Eu não conhecia o livro e apesar de gostar de livros clássicos, a história em si não despertou minha atenção. Só li um livro do Oscar que era de contos e foi maravilhoso. O Retrato de Dorian Grey também está na minha lista de desejados e espero poder ler em breve. Mesmo assim, foi bom saber que De Profundis foi uma leitura surpreendente para você.
    Beijos.

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  3. Olá! Eu ainda não conhecia esse livro. Como você bem disse, "O retrato de Dorian Grey" é o livro mais famoso do autor e era o único que eu já havia ouvido falar. Poxa... me interessei bastante pelo assunto, principalmente pelo fato de o livro ter sido escrito durante o período em que esteve preso! Se você curtiu a leitura, melhor ainda! Adoro bons clássicos, vou incluir na minha lista de leitura.
    Beijos!
    Karla Samira
    http://pacoteliterario.blogspot.com.br/

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  4. Oi Ana, sua linda, tudo bem?
    Eu também sou louca para ler O Retrato de Dorian Gray, aliás, eu tenho uma lista de clássicos que gostaria de ler e até agora nada, risos... Nossa, não sabia que ele tinha tido um amante e muito menos de que foi usado pelo mesmo. Pelo visto, era uma pessoa muito ruim, cruel, já que disse que era um sociopata. Confesso que também não sabia que Wilde tinha sido preso. Não conheço a história dele. Não tenho o costumo de ler histórias que não sejam de ficção, abro raras exceções, mas essa não chamou minha atenção. Mas para quem gosta do gênero, até pelo sentimento de orgulho que lhe despertou, com certeza deve ser uma ótima dica!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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