sábado, 27 de fevereiro de 2016

[Resenha] Deserto de ossos

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Autor: Chris Bohjalian
Páginas: 344
Editora: Companhia Editora Nacional
Em 1915, o massacre de milhares de armênios perpetrado pelos turcos tingiu para sempre as areias do deserto sírio com o sangue e os ossos de uma civilização inteira. Em meio a esse cenário desolador, Armen Petrosian, um jovem engenheiro armênio que perdeu a esposa e a filha, e Elizabeth Endicott, uma rica jovem americana, se apaixonam. Mas antes de assumir o que sentem, eles se separam quando Armen se alista no exército britânico e Elizabeth vai trabalhar como voluntária. Ambos testemunharão atrocidades que os marcarão para sempre antes que possam se reencontrar. Quase um século depois, às vésperas do centenário do genocídio, a neta do casal, Laura, embarca em uma jornada pela história de sua família, descobrindo uma história de amor, perda e um delicado segredo que ficou soterrado por gerações.

Todos conhecem bem sobre a Segunda Guerra Mundial, é falado nas escolas, na mídia, nos livros... Mas, e a Primeira? Confesso que eu nunca soube nada dela, e nem procurei pesquisar, então foi um verdadeiro tapa na cara Bohjalian trazer uma ficção baseada no que ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial, onde milhões de armênios morreram nas mãos do turcos, por volta de 1915. Eu fiquei muito sensibilizada com tudo o que ocorreu, pois mesmo sendo ficção, há vestígios de conflitos verdadeiros, assassinatos que realmente ocorreram, de toda maldade presente naquele século, e que infelizmente, não mudou tanto assim ultimamente. Deserto de ossos me pegou desprevenida, pois não havia parado para ler a sinopse, peguei para ler pois a editora me enviou o lançamento, e como eu sempre gosto das obras lançadas da Companhia Editora Nacional, nem hesitei em iniciar a leitura sem saber de nada do enredo. E o que eu posso dizer é que foi uma surpresa bem vinda, pois foi uma chance de conhecer melhor esse fato histórico tão marcante, mas pouco comentado.

A trama nos apresenta Laura, neta dos protagonistas, que perto de completar cem anos do genocídio que marcou a história resolve pesquisar o que ocorreu naquela e como foi a vida dos avós naquela época. Através de cartas e relatos dos próprios avós, Laura escreve um livro sobre eles, onde é impossível o leitor não se emocionar. Elizabeth Endicott é uma americana, que junto com o pai, se voluntaria para ajudar os armênios. Em Alepo descobre os horrores da guerra, há muita violência e assassinatos. É angustiante ver mulheres desidratadas, subnutridas e com o psicológico abalado ao ter que ver maridos e filhos mortos com crueldade. Em Alepo ela conhece um engenheiro armênio, Armen, que perdeu esposa e filha na deportação. O relacionamento dos dois é algo que acontece gradativamente, em meio a tanto horror, o amor acaba surgindo. No entanto, eles acabam se separando quando Armen se alista no exército britânico com o intuito de vingar sua família. 

Meu marido não conhecia os detalhes da história deles até então; eu também não. Uma vez que descobrimos a verdade, anos mais tarde, ele mudaria de ideia sobre se eu tinha autoridade moral para explorar o horror particular de meus avós. Porém, eu já estava obcecada pela história e ninguém podia me parar.

Deserto de ossos ora é narrado contando a história de Elizabeth e Armen, ora com Laura contando os motivos de escrever o livro e como conseguiu as informações. Eu achei sensacional essa mudança de pontos de vista, pois permite ao leitor ficar próximo tanto dos protagonista quanto de Laura. É uma leitura intensa, com cenas fortes e tristes, mas eu acho que é necessário ler para saber mais sobre esse período da história. Essa é uma história de amor que não tem como foco o amor propriamente dito, mas sim tudo o que ocorreu por trás disso, toda luta, todo sofrimento. Eu fiquei comovida em vários momentos, pela parte ficcional e a real, é impossível ser diferente disso.

A leitura é rápida, eu pelo menos me envolvi demais na história, e gostei muito de acompanhar personagens tão marcantes e fortes. Foi uma pena perceber que a ajuda era ínfima comparada a tudo o que ocorria, mas ao mesmo tempo foi lindo ver pessoas dispostas a ajudar os outros. Essa é uma obra que gera um misto de emoções ao leitor. Eu mesma senti muita raiva desse povo que se mostrava tão religioso, mas usava desculpas de seu deus para matar tantos inocentes. Uma guerra feita do preconceito, da intolerância e também da ignorância. Esse livro me marcou muito, e eu fiquei por vários dias triste com tudo.

Eu recomendo Deserto de ossos, é uma leitura obrigatória para aqueles que também não tinham conhecimento desse genocídio. Porém, o que mais entristece também é saber que muito do que ocorreu há mais de cem anos ainda está presente nos dias atuais.

8 comentários:

  1. Eu gosto de tramas que fazem um retrocesso na história, como esta por exemplo cuja neta vai atrás da história da família. Tenho este livro, recebi da editora no ano passado, não me animei ainda para ler pois tenho medo de ser muito forte...e acho que é mesmo.

    Beijo, Van - Retrô Books
    http://balaiodelivros.blogspot.com.br/

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  2. Oi, Andressa!
    Muito interessante a premissa do livro, a Primeira Guerra realmente não é tão abordada quanto a segunda, que por mais que tenha a mais feroz entre as duas, tenha resultado no mesmo horror e destruição. Acompanhar a perspectiva do ocorrido entre uma visão atual ao pesquisar o passado, alternando com personagens no meio do terror que ele fora foi uma sacada muito boa da autora, ainda que seja triste reconhecer que, assim como você disse, muito do que houve naquele tempo continua a se repetir hoje em dia, em situações não notificadas com clareza e que escondem o mesmo grau de ignorância, intolerância e preconceito de antes. Por isso mesmo não deve ser uma leitura nada fácil, o psicológico tem de estar preparado para acompanhar essa narrativa, mas isso só ressalta o quão importante ela precisa ser discutida atualmente assim como a guerra que veio em seguida. Parabéns pela emocionante resenha também!
    Beijos!

    ♥ Sâmmy ♥
    ♥ SammySacional ♥

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  3. Oi! Realmente é mais comum livros que abordam a segunda guerra, então a gente acaba sabendo mais sobre a segunda do que sobre a primeira, que também causou muitos estragos.

    Gosto muito desses livros com temática histórica, sempre tenho vontade de pesquisar o que aconteceu de fato e o que foi licença poética!


    Bjs,


    http://tamiresdecarvalho.com/

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  4. Cada resenha de um livro mais histórico que eu leio no seu blog é um tapa na minha cara por eu não saber de nada! Realmente, o que ficou marcado pra gente foi a Segunda Guerra, sobre a Primeira parei pra pensar aqui e não sei nada! Não sei nem porque aconteceu. Chocada.
    Achei super interessante a premissa do livro, a história com certeza é emocionante. Essa mudança de ponto de vista acho que ajuda não só a se aproximar da Laura mas ajuda também a dar uma respirada né, um momento de mais calma na história. Gostaria muito de ler.

    beijos

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  5. Oi!!
    Eu amo ler e assistir documentários sobre a Segunda Guerra Mundial, mas realmente nunca procurei nada sobre a Primeira.
    O que mais choca em livros assim é a questão de olhar para o que ocorreu e perceber que o mundo não mudou tanto assim, o racismo, a questão de escolha de religião e muitos outros assuntos ainda são tratados de maneira assustadora.
    Livros assim sempre me deixam apreensiva e ao mesmo tempo revoltada com tanta crueldade e violência, é angustiante pensar em passar pelo que essas pessoas passaram.
    Já está na minha lista de desejados.
    Beijão!
    Lilica - O maravilhoso mundo da leitura

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  6. Parando para pensar, eu também não sei muito sobre a Primeira Guerra, não me lembro de ter lido um livro sobre essa época.
    Guerras sempre marcam as pessoas, é quando a população do país fica na pior condição de vida. Acontecem coisa chocantes e que imaginamos serem impossíveis de uma pessoa ter feito isso. Guerra é Guerra.
    Gostei da sua resenha e acredito que vou me emocionar muito quando eu ler também.
    Obrigada pela dica. Eu mesmo não sabia desse genocídio.


    parado-na-estante.blogspot.com.br
    facebook.com/paradonaestante

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  7. Oiee ^^
    Nossa, eu sei tanta pouca coisa sobre a Primeira Guerra Mundial, realmente, sobre o que mais falam é a Segunda *-* Já fiquei curiosa para ler esse livro por causa disso, e também porque parece ser um livro emocionante, e que consegue mexer com a gente. Fiquei mesmo muito curiosa para ler esse livro, vou colocar na listinha já para não esquecer.
    MilkMilks
    http://shakedepalavras.blogspot.com.br

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  8. Oi!
    Confesso que não sou muito chegada em romances históricos, principalmente os que dão ênfase à guerras. Mas achei curioso pois, realmente, é raríssimo encontrarmos obras que tem como fundo e tema a primeira GM. Mas apesar disso acho que dificilmente leria essa obra.
    Abraços,
    Andy - StarBooks

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