[Resenha] Amor amargo

Autora: Jennifer Brown
Páginas: 256
Editora: Gutenberg
Último ano do colégio: a formatura da estudiosa Alex se aproxima, assim como a promessa feita com seus dois melhores amigos, Bethany e Zach, de viajarem até o Colorado, local para onde sua mãe estava indo quando morreu em um acidente. O Dia da Viagem se torna cada vez mais próximo, e tudo corre conforme o planejado.
Até Cole aparecer.
Encantador, divertido, sensível, um astro dos esportes. Alex parece não acreditar que o garoto está ali, querendo se aproximar dela. Quando os dois iniciam um relacionamento, tudo parece caminhar às mil maravilhas, até que ela começa a conhecê-lo de verdade…

Amor amargo, da mesma autora de A Lista Negra, é um livro bastante expressivo. Jennifer Brown conseguiu mais uma vez tratar de um assunto real com bastante sensibilidade, mas ao mesmo tempo, sem amenizar nada. Nunca havia lido uma obra com este tema, por isso foi um choque, e confesso que em alguns momentos eu julguei. Me envergonho disto, mas eu nunca passei por uma situação parecida como a da personagem, e nem conheço ninguém próximo que passou, então foi difícil entender no início, mas a autora consegue fazer o leitor mudar sua visão sobre relacionamentos abusivos. 

Alex perdeu a mãe quando era criança, desde então o relacionamento com o pai é nulo, ele vive no próprio mundinho, sem dar nada de amor aos filhos. Suas irmãs não compartilham do mesmo desespero de saber por qual motivo a mãe pegou o carro e quis ir embora para o Colorado, se não fosse o acidente, que Alex. As únicas pessoas que ela pode contar são seus melhores amigos: Zach e Bethany. Os três são inseparáveis, e desde que se conheceram, programam uma viagem ao Colorado para tentar descobrir os motivos da mãe de Alex para querer largar a família. O que será que tem de tão importante lá?

Alex é uma jovem feliz, tem um emprego, tem amigos e a viagem está cada vez mais próxima. É então que surge Cole, um garoto que se mudou e foi transferido para a mesma escola. Alex acaba dando aulas de reforço ao garoto, e é a partir daí que sua vida muda. Ele é lindo, charmoso e divertido. Rapidamente os dois começam a namorar, e a felicidade de Alex agora é plena. Mas, Cole se mostra alguém muito ciumento e possessivo. Não gosta de ver ela conversando com Zach, e os abusos começam com palavras, tratar mal os amigos, ignorar ela... Porém, as coisas fogem do controle, o ciúme é cada vez mais intenso, mas ela ama muito Cole e tenta deixar de lado todas essas ações, mesmo quando ele bate nela pela primeira vez. Alex sempre arruma uma desculpa para o comportamento dele. E quando começa a ficar pior e mais perigoso, Alex pensa que a culpa é ela, e que não deve falar nada a ninguém. E afinal, ela o ama.

Eu acho que é comum pensar "por que ela deixa ele tratá-la desse jeito?" ou "como ela não viu que ele não prestava?", entre tantos outros pensamentos. Porém, a história nos mostra a dificuldade de se levantar, de tomar coragem, de não se ver como a culpada e dar um fim em tudo. No início senti muita muita, mas muita, raiva de Alex. Como ela larga os amigos por um garoto que ela recém conheceu? Como deixa ele tratar mal esses mesmos amigos, e até ela? Logo que o abuso começou, ainda verbal e emocional, eu já achei que ela deveria ter dado um basta. O que me irritou também foi ela ter o pensamento de que não tem ninguém que a ame e entenda como Cole. Como assim? Ela pode não ter a família como apoio, mas e os amigos?

E assim, sem mais nem menos, me dei conta de que, querendo ou não, o que tinha acontecido no dia anterior já tinha começado a me definir; eu estava inventando pretextos para justificar o que ele tinha feito comigo.

Quando a violência foi física, já não conseguia mais sentir raiva de Alex. Me bateu uma tristeza enorme, e uma angústia, que foi quando eu comecei a entender a falta de iniciativa da parte dela para sair desse relacionamento. Então, parei de ver ela como uma garota boba e burra, com autoestima baixa. Sim, a baixa autoestima ajudou, mas em nenhum momento ela foi a culpada. Ela era uma vítima, e só piorou a situação por acabar amando o garoto, que quando finalmente enxergou que o que estava acontecendo não era certo, percebeu ser tarde demais. Não queria ser julgada, não pediu ajuda.

Amor amargo foi uma leitura intensa, sensível e tocante. Me envolvi muito na narrativa da autora, e achei muito legal ela desenvolver a trama mostrando como começa um relacionamento abusivo de forma bastante real. Infelizmente este tipo de relação existe, onde as vítimas se sentem culpadas e não buscam ajuda. Eu acho que essa é uma leitura obrigatória para todos. Essa é uma história que não é real, mas poderia ser, pois pode acontecer com alguém próximo. 

Eu agradeço a Gutenberg pela oportunidade de poder ler esta obra incrível e tocante. Já virei fã da autora, e mal posso esperar para ler outras obras que toquem na ferida e nos façam refletir. A edição está linda, eu amei a capa. Recomendo!