[Resenha] O guardião

Autor: Daniel Polansky

Hoje, quando você sair à procura de Yancey, o Rimador, e tiver de abrir caminho em meio às prostitutas, aos valentões e aos viciados loucos por mais um dia de cheirada ou um trago, você irá se deparar com o corpo de uma criança. O cadáver exala um odor que não é dele, um cheiro que recende a magia e a um lugar, se Sakra quiser, para o qual você jamais irá querer voltar. Não fique tempo demais de bobeira perto do corpo; os gélidos vão querer saber o que você fez e o que há na sua bolsa. E quando eles te pegarem, é para a Casa Negra que você irá, onde o Comandante fará uma oferta que você não terá como recusar. Bem-vindo a um mundo como nenhum outro, com uma linguagem estranha e rica e uma violência tão sombria quanto o mais negro dos noites.

Já tinha visto a capa do livro por aí, mas nunca parei para ler a sinopse, só quando o segundo volume lançou é que realmente parei para saber do que se tratava a história, e na hora fiquei encantada e ansiosa para iniciar essa série. Uma fantasia gótica que mistura investigações, como se nós estivéssemos lendo um verdadeiro romance policial, mas com elementos de um mundo mágico e fantasioso. Tudo combinou muito bem, me arrependi de não ter lido antes. O autor nos apresenta um enredo complexo e com narrativa mais adulta, mas nada que seja difícil de entender. A trama é espetacular, entrei madrugada adentro de tão envolvente que é!

O Guardião, não sabemos o nome dele, é um ex-agente da Casa Negra que ultimamente sobrevive como traficante de drogas, e até mesmo utiliza delas. Marcado fisicamente e emocionalmente pela Guerra, ele é um sujeito misterioso, e que se precisar matar, irá fazer isso. Vive na Cidade Baixa, um lugar esquecido pela Guarda, onde os pobres convivem diariamente com as gangues e várias raças que ali habitam. A Cidade Baixa é um lugar sujo, com prostíbulos, drogas e tudo que a Coroa quer longe de sua nobreza. Um dia uma menina desaparece, e dias depois é encontrada morta. Para azar do Guardião, é ele quem encontra a menina, assim, precisa conversar com seu antigo parceiro, que não fica nada animado em vê-lo. Ele vira suspeito, mas logo deixa de ser, pois seu parceiro sabe que ele não seria idiota de fazer isso e ficar na cena do crime. Então, o Guardião resolve investigar o assassinato e evitar que mais outros aconteçam, mesmo ele não sendo mais um agente, tudo é feito por baixo dos panos.

Quando eu achar o filho da puta que fez aquilo com a menina, farei com que o que aconteceu com Lábio Leporino se pareça com a carícia de um novo amor. Por tudo o que é sagrado, ele terá uma morte lenta.

Os personagens da trama são cruéis, sem escrúpulos, e mesmo o Guardião que é o "herói", tem muito disso nele, é isso o que o torna anti-herói, pois se ele tiver que fazer algo ruim e matar, não irá pensar duas vezes. Percebemos que ele é atormentado pelo que passou na Guerra, mas quando uma criança é achada morta de forma tão cruel, ele relembra o que ele próprio passou quando criança, mas principalmente vê uma forma de voltar a fazer o que fazia antes, e quem sabe se redimir? Motivos egoístas, mas que mesmo assim mostram no decorrer da narrativa que ele tem algo bom dentro dele. 

O guardião nos apresenta a arte da magia, a nobreza, a pobreza e a podridão da alma humana. O assassinato acaba sendo parte de algo bem maior do que se achava, e esses elementos todos juntos nos dão uma trama incrível, cheia de suspense e fantasia. O final me chocou, pois nem imaginava que seria daquele jeito. Só me comprovou que realmente ninguém é confiável, seja rico ou pobre. A narrativa do autor nos faz explorar um mundo pobre, com doenças e drogas, e ainda nos apresenta uma investigação de tirar o fôlego! Estou ansiosa para começar A cilada, tudo terminou muito bem no livro, então não imagino o que pode ser abordado nesse segundo volume. Vou me segurar para não ler a sinopse de novo, e assim, me surpreender novamente com a narrativa do autor. Recomendo!