segunda-feira, 11 de abril de 2016

[Resenha] O que não existe mais

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Autor: Krishna Monteiro
Páginas: 112
Editora: Tordesilhas
O que não existe mais é um relato sobre memória e desajuste, solidão e renascimento. Neste livro de contos, Krishna Monteiro explora esses temas sob vários ângulos. O de um filho perseguido nos corredores de sua casa pela lembrança viva o pai; o de um pacto celebrado pelo escritor João Guimarães Rosa numa encruzilhada; o de um galo de briga que, ao combater na arena, recorda toda a sua existência; o de um gato, narrando os últimos momentos de sua dona, sem compreendê-los; o de um velho soldado que tenta sem sucesso exorcizar a guerra; o de uma mulher que diante da degradação e do envelhecimento vê no ato de contar histórias a fonte mesma de criação e manutenção da vida.

O que não existe mais, do autor Krishna Monteiro, é um livro de contos que faz o leitor incorporar o tema proposto. Por mais que cada história não seja algo que passamos, ou pudéssemos presenciar, a ideia de perda e melancolia é bastante presente. Quase palpável. Confesso que este não seria um livro que eu escolheria para ler, mas como eu recebi da editora, fiquei curiosa em fazer a leitura. E mesmo saindo totalmente da minha zona de conforto literária, eu simplesmente amei a obra.

Eu adoro contos, e o tema não tem nada muito fora do comum, mas o que realmente foge da minha "realidade" é a escrita do autor. Ele nos narra cada conto de forma quase poética, com uma linguagem mais rebuscada, mas que mesmo assim, se o leitor ler com atenção, consegue entender e se envolver no enredo proposto. Não tenho muita experiência com este tipo de escrita, eu até fujo um pouco dela, mas foi impossível não me apaixonar pela obra inteira do Krishna. 

O que não existe mais, primeiro conto da obra, é bastante reflexivo ao narrar as lembranças que um filho tem de seu pai já falecido. Assombrado por uma certeza de ter deixado algo para trás. 

E, ao deitar em minha cama, na última, derradeira vez que te vi depois de tua morte, dou-me conta, pai, concluo, pai, que tu sempre haverás de existir. Boa noite. E adeus.

As encruzilhadas do Doutor Rosa foi o único conto que me confundiu um pouco, me fazendo não entender direito em como ele se encaixava no tema proposto. No entanto, percebi que ele trata de querer muito algo, e acabar se deixando levar por esse desejo.

E foi pouco antes de sobre minha cama deitar em definitivo que me dei conta de que já não morava em meus aposentos, e sim no interior, nas entrelinhas do texto que ele, o médico, me confiara no topo da montanha.

Quando dormires, cantarei foi uma trama que no início não sabia quem realmente estava narrando, mas quando eu descobri fiquei maravilhada. Temos a visão do mundo através de um galo de briga. E, junto a forma poética do autor, foi um dos contos que mais gostei.

Faz como aprendera, como estava escrito: a asa direita é o escudo que apara os golpes; a esquerda é a espada que sibila; e do céu e do solo e de todos os lados o corpo trovejará, lembrando tempestades vingativas de granizo: assim estava escrito.

O âmbito cerrado por um sonho tem também um animal como narrador: desta vez um gato. E é realmente incrível ver o mundo por seus olhos.

Seu colo cheira a lã, a leite fresco.

Monte Castelo é o maior conto da obra, e um dos mais singelos e realistas. Com sua narrativa delicada, o autor narra os desentendimentos de uma família e o que provoca na vida de um neto e um avó. Muito emocionante.

Até que se fez novamente o silêncio. Sim. Até que se faz, novamente, e hoje, o silêncio.

Sudário, penúltimo conto, e um dos mais curtos, fala através de metáforas sobre suicídio, e talvez, libertação de pensamento negativos.

Se eu fosse você, largaria esta arma. Poria no chão este revólver. Lançaria por terra a fria bala de aço destinada a explodir teu crânio.

O último conto, Alma em corpo atravessada, também possui bastante sentimentalismo, e parece ter alguma relação com o conto do galo.

Os galos de briga trocavam golpes e se engalfinhavam no terreiro, seu filho adotivo a rondava tentando ainda em vão capturar a ave que ela retinha entre os braços, enquanto à noite, diante dos poucos que ainda restavam, insistia em explorar camadas e mais camadas de seu pergaminho, tentando encontrar uma pista, tornar visível o invisível.

O que eu mais gostei no livro é que algumas histórias permitem ao leitor ser suscetível a interpretar de mais de uma forma o enredo. A leitura, apesar do livro ser curto, não é rápida. É preciso ler com bastante atenção para visualizar as nuances entre os contos. Recomendo!

13 comentários:

  1. Ola Andressa gostei do conto que fala sobre o neto e o avó, acho que o fato de não estarem mais presentes me chamou atenção, confesso que escritas mais poéticas as vezes se tornam um pouco pesadas na hora de ler. Gostei da capa singela e bonita. Quem sabe em outro momento eu leia.

    beijos

    Joyce
    www.livrosencantos.com

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  2. Olá, Andressa.
    Infelizmente esse livro não me interessou. Por uma série de coisas. Não sou muito fã de contos. Também não sou fã de linguagem poética e nem os temas dos contos não me chamara muito a atenção. E também não gostei da capa hehe. Então acho que não leria.

    Blog Prefácio

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  3. Oie...
    Que capa linda, OMG!
    Apesar de gostar bastante de contos, não me interessei nesse livros, porque prefiro aqueles que relatam cenas do cotidiano.
    Beijos

    http://coisasdediane.blogspot.com.br/

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  4. Oi Dessa, sua linda, tudo bem?
    Quando um autor usa e abusa da poesia, permite mais de uma interpretação, acredito que é porque eles falam de sentimentos, em uma visão muito pessoal. Gostei muito dos contos que são narrados pelo galo e pelo gato, compartilhar da visão deles deve ser uma experiência em tanto, risos... Mas os que acredito irão tocar meu coração, são o do menino que perde o pai e o do neto com o avô. Não tenho o costume de ler livros de contos, mas essa é uma ótima dica. Sua resenha ficou ótima!!!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  5. Oi Andressa.

    Eu adoro ler contos, principalmente quando traz uma capa tão bonita como essa. Sua resenha está ótima e fiquei interessada em ler os contos Quando dormires, cantarei e Monte Castelo.

    Bjos

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  6. Oi Andressa!
    Adorei a premissa do livro, pois adoro livros de contos, ainda mais permeados por drama e melancolia. Adorei saber sobre a linguagem mais rebuscada do autor, bem como da poesia presente no livro.
    Tudo isso me fez lembrar o livro "Meus desacontecimentos", do qual já deixo a indicação.
    Vou procurar para adicionar à lista de leitura.
    Beijos!

    Karla Samira
    http://pacoteliterario.blogspot.com.br/

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  7. Oi Andressa também não sou muito de ler contos, ainda mais quando eles são narrados da forma que você ressaltou, mas ainda assim algumas vezes dou uma chance. O que me chamou atenção é que alguns contos são narrados por animais, né? Adorei isso!

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  8. Oi Andressa, tudo bom? Eu nunca curti muito contos sabia? Sempre acho que fica um ar de "só isso?"! Mas dessa vez você me pegou, contos que fazem a gente refletir e narrado por animais? Ganhou meu coração! Com certeza vou dar uma conferida nesse livro que parece ser bem diferente de outros livros de contos que pude ver (e não gostei)! Bjosss

    http://www.porredelivros.blogspot.com.br

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  9. Oi. Eu gosto bastante dos livros da Tordesilhas, li alguns e fiquei encantada. Também aprecio contos, quanto mais leio, mais quero. A ideia de perda e melancolia é outra coisa que me agrada, enfim, acho que o livro tem tudo o que preciso. Linguagem poética e rebuscada não é algo que me tire a atenção, muito pelo contrário, é algo que me faz pensar, poxa, não é fácil fazer isso aqui...

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  10. Ooi! Eu não sou muito fã de livros de contos e acabo sempre lendo estes por causa de parcerias. Assim como você fujo de livros que tenham uma escrita mais complexa, gosto de ler algo mais simples e de fácil entendimento mais para me entreter durante a leitura e não ficar matutando o significados das palavras. rs
    Mas que bom que o livro tenha te agradado e surpreendido. Beijos
    Sil - Estilhaçando Livros

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  11. Oie, tudo bem?
    Muita gente se engana quando acha que livros pequenos são rápidos de ler. Gosto quando uma obra é carregada de tanto sentimento, de coisas que nos fazem pensar e refletir... Mas esse é o tipo de livro mais denso e que, por não pertencer a minha zona de conforto, eu demoro mais para me envolver (acho que foi o que aconteceu com você). Eu não conhecia a obra, mas gosto bastante de contos... Não sei porque, mas o livro me lembrou da obra 'Clarices', que li no ano passado (se não me engano).
    Bom, no final o esforço acabou valendo a pena, não é mesmo?

    Beijinhos
    www.procurei-em-sonhos.com

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  12. Oi Andressa.
    Esse é um livro que não me interessa em nada, por mais que você recomende. Estou me afastando um pouco de contos, não gosto muito de melancolia e detesto ler narrativas muito poéticas, nunca fui adepta de ter que ficar refletindo sobre o que ta escrito, no sentido de refletir pra conseguir entender o que eu li rs MAs pra quem gosta, creio que seja um prato cheio.
    beijos

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  13. Ei, tudo bem?
    Eu adoro livros de contos, e adoro mais ainda quando os sentimentos são abordados neles. Fiquei um pouco receosa por conta da escrita do autor, mas acho que darei sim uma chance a leitura. Os contos parecem ser muito bons e estou curiosa para conhecer melhor cada um deles.

    Beijos, Gabi
    Reino da Loucura

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