[Resenha] Dois garotos se beijando

Autor: David Levithan
Páginas: 224
Editora: Galera
Baseado em fatos reais e em parte narrado por uma geração que morreu em decorrência da Aids, o livro segue os passos de Harry e Craig, dois jovens de 17 anos que estão prestes a participar de um desafio: 32 horas se beijando para figurar no Livro dos Recordes. Enquanto tentam cumprir sua meta — e quebrar alguns tabus —, os dois chamam a atenção de outros jovens que também precisam lidar com questões universais como amor, identidade e a sensação de pertencer.

Dois garotos se beijando é um livro que antes mesmo de lançar já estava sendo polêmico, o motivo? A capa. Muita gente não gostou dela, algumas pelo visual mesmo, outras por ter dois garotos se beijando. É triste e irônico o que um livro que fala de homossexualidade e preconceito despertou nas pessoas. Enfim, eu não esperava receber um exemplar, foi uma surpresa mesmo, a qual eu adorei. Quero muito ler mais livros do autor, só li dois até agora, eu acho a escrita dele sensacional. O que não podia ser diferente nessa obra... Levithan nos surpreende com uma narrativa peculiar e emocionante, onde gerações de gays antes de nós nos apresentam a vida, medos e receios da geração atual.

Todos os personagens são gays. Mas isso não é apenas o que os define. Cada um tem sua história, seja ela de coisas boas ou não. Têm aqueles que os pais apoiam, os que os pais sentem vergonha e até mesmo os que os pais nem sabem. Conhecemos a vida de oito garotos, alguns dos quais nem se conhecem, mas que demonstram passar pela mesma situação: a incompreensão da sociedade, quando não, dos seus pais.  

- É só um bate-papo - Cooper tenta dizer para ela. - Nada acontece nunca.
Mas a expressão no rosto dela enquanto lê... alguns de nós precisam virar a cara. Nós conhecemos essa expressão. Alguma coisa dentro dela está se partindo. E, com isso, ela está desistindo de nós.

Craig e Harry conheceram Tariq após ele ser espancado por vários garotos. A partir desse sentimento de medo é que eles acabam se aproximando. Craig e Harry eram um casal, e mesmo sendo só amigos no momento, é a partir deles que a história ganha forma ao decidirem bater o recorde de beijo. Principalmente sendo um beijo gay. Então eles e mais alguns amigos resolvem deixar tudo arrumado para o grande dia. Mas não é apenas para bater um recorde, é uma forma de mostrar para todos que eles também amam, e que não há nada de errado nisso. Várias pessoas acompanham os dois, muitos para xingá-los e perguntar se os pais sabem dessa pouca vergonha. Porém, nada pode abalar o grande beijo e a busca por completar mais de trinta e duas horas.

Também conhecemos Peter e Neil, um casal adorável, que serve para nos mostrar a leveza de um relacionamento, independente do sexo. Há Cooper, ele não conhece nenhum dos outros meninos, mas sua historia mostra uma parte triste de se assumir. Ele não contou a seus pais que é gay, e se esconde atrás de perfis falsos na internet para paquerar outros homens. E por último, há Avery e Ryan, eles se conhecem em um baile gay, e acabam contando sobre sua vida um para o outro. Avery nasceu em um corpo de menina, e isso já é o bastante para ver o quão delicado é sua situação, e como deve ser mais difícil ainda lidar com o julgamento dos outros.

Ele não vai deixar que o acontecimento o impeça de ir à cidade, de dançar. Mas o medo persiste. Os ferimentos. E, no fundo da mente, morando, como foi conosco, no fundo dos pensamentos, estão as perguntas mais traiçoeiras:
Como eles me identificaram? Como souberam?O que fiz de errado?

Dois garotos se beijando me conquistou completamente. A narrativa feita por gerações que já se foram, ou morreram de aids, é triste. Percebemos que algumas coisas mudaram com o tempo, eles mesmo falam sobre isso, mas o preconceito, não. Me emocionei com cada história, pois sei que elas acontecem e são reais, mesmo não sendo inspiradas em ninguém específico. A leitura é fluída e comovente, as poucas páginas do livro tocam e inspiram o leitor de forma absurda. Terminei Dois garotos se beijando sentindo um misto de emoções. Gostei muito mesmo da trama e de como Levithan narrou a história. Recomendo a leitura para todos!

No caminho, eles não falam muito, mas o relacionamento chegou ao ponto em que o silêncio é confortável, não ameaçador. O silêncio só faz mal quando há coisas que não estão sendo ditas, ou quando há medo de que o poço esteja seco e não haja mais nada a ser dito. Nenhuma das duas coisas é o caso agora. Eles ainda têm muita coisa a dizer um para o outro, só nada a dizer agora.