[Resenha] Juntando os pedaços

Autora: Jennifer Niven
Páginas: 392
Editora: Seguinte
Jack tem prosopagnosia, uma doença que o impede de reconhecer o rosto das pessoas. Quando ele olha para alguém, vê os olhos, o nariz, a boca… mas não consegue juntar todas as peças do quebra-cabeça para gravar na memória. Então ele usa marcas identificadoras, como o cabelo, a cor da pele, o jeito de andar e de se vestir, para tentar distinguir seus amigos e familiares. Mas ninguém sabe disso — até o dia em que ele encontra a Libby. Libby é nova na escola. Ela passou os últimos anos em casa, juntando os pedaços do seu coração depois da morte de sua mãe. A garota finalmente se sente pronta para voltar à vida normal, mas logo nos primeiros dias de aula é alvo de uma brincadeira cruel por causa de seu peso e vai parar na diretoria. Junto com Jack. Aos poucos essa dupla improvável se aproxima e, juntos, eles aprendem a enxergar um ao outro como ninguém antes tinha feito.

Quando a Seguinte ofereceu a prova antecipada de Juntando os pedaços, e eu li a sinopse, não pensei duas vezes ao querer fazer a leitura. Eu nunca li nada da autora, mas conferi vários elogios sobre seu livro Por lugares incríveis, então eu tive certeza de que essa seria uma leitura igualmente marcante e emocionante, e não me enganei em nenhum momento. A história é daquelas que te deixa com o coração apertado, mas que ao mesmo tempo te faz explodir de felicidade por encontrar uma personagem tão corajosa e fulgurante. Libby é aquela personagem que você se identifica por conta de algumas situações, e que ao mesmo tempo queria ser como ela. 

Escola não é um lugar fácil, crianças são malvadas, muitas vezes praticam bullying para tentar fazer parte da "galera bacana". E é um pouco disto que a obra retrata. Libby foi conhecida como a garota mais gorda dos Estados Unidos, e mesmo após perder 140 quilos, ela ainda presencia comentários maldosos e piadas sobre seu peso. E é por isso que eu digo que ela é uma personagem que podemos nos identificar, talvez não pela mesma situação, mas por sempre ter alguém que irá tentar lhe colocar para baixo por algo que você não tem ou não é. Eu admirei muito Libby por toda sua confiança e autoestima alta, mesmo por tudo o que passou. Ela é aquela pessoa que está sempre com a cabeça erguida e te faz sentir confiante consigo mesma. Te faz querer ser igual a ela.

As pessoas fazem merdas por vários motivos. Às vezes, são simplesmente pessoas escrotas. Às vezes, outras pessoas fizeram merda com elas e, apesar de não perceberem, tratam os outros como foram tratadas. Às vezes fazem merdas porque estão com medo. Às vezes escolhem fazer merdas com os outros antes que façam merdas com elas.

Libby após passar anos estudando em casa, e após perder vários quilos, resolve reingressar na escola, no ensino médio, onde por incrível que pareça é ainda pior. Adolescentes, pelo menos alguns, são fúteis e se deixam levar mais ainda pela galera. Que é o que ocorre entre ela e Jack, um dos garotos populares, que para continuar fazendo parte da turma, acaba sendo bem babaca. Porém, ele tem um motivo para isso, não é plausível e não justifica, mas mesmo assim nos faz ter pena dele. Jack tem uma doença que não o deixa identificar rostos. Ele vê uma boca, um nariz, olhos... no entanto, não consegue montar a imagem para saber quem é aquele pessoa. De ninguém, nem de sua família.

Jack sabe que se alguém descobrisse isso o faria ser uma das escórias da escola, é por isso que ele criou algo para reconhecer as pessoas, marcas que cada um possui: voz, altura, cabelo, etc... Mas, nem sempre isso dá certo, e muitas vezes ele passa como arrogante por não reconhecer uma pessoa, o que só faz seu status de popular crescer.

O caminho de Jack e Libby se cruzam quando criam um jogo chamado de rodeio das gordas, Jack prefere ele mesmo fazer a menina passar por essa humilhação, pois tem medo do que os amigos possam fazer. E sim, é realmente humilhante, mas como estamos falando de Libby, ela não vai para o cantinho chorar ou volta correndo para casa, não. Ela dá um soco, muito bem dado, em Jack. É a partir daí que a vida dos dois acabam se cruzando, e aos poucos surge uma cumplicidade entre eles.

A história de Libby é muito triste, ela perdeu a mãe com dez anos, e como modo de afastar a dor, encontrou a comida como salvação. Chegando quase aos trezentos quilos, ela precisou ser resgatada por um guindaste para conseguir ajuda médica. Sua pior dor é ver as pessoas colocando a culpa em seu pai. Mesmo em meio a tanto sofrimento, Libby é uma pessoa extremamente confiante, e prefere muitas vezes se humilhar antes que outras pessoas o façam.

Juntando os pedaços possui uma trama muito bonita, reflexiva e emocionante. Os dois personagens cativam o leitor aos poucos, e o envolvimento deles surge lentamente, nos fazendo amar cada situação. Eu amei a leitura do início ao fim. É uma história linda, que mesmo falando sobre uma doença e bullying, consegue encantar. A obra é narrada por ambos os personagens, o que nos faz ter uma proximidade maior com cada um deles. Os capítulos são bem curtos, então é uma leitura extremamente rápida. Eu gostei muito da trama, e quero conferir o outro livro da autora. Essa obra é daquelas que eu recomendo para todos.