[Resenha] Eu estou aqui

Autora: Clélie Avit
Páginas: 288
Editora: Fábrica231
No cenário frio e asséptico de um hospital surge a paixão entre Elsa, uma montanhista em coma há cinco meses depois de cair durante uma escalada, e Thibault, que se refugia no quarto da moça, por não querer visitar o irmão, o motorista bêbado que causou a morte de duas adolescentes num acidente automobilístico.Delicadamente composto, o romance mostra o envolvimento gradual entre dois personagens cuja comunicação se dá instintivamente. Enquanto Thibault pode conversar e incentivar Elsa a retomar o domínio de suas ações, a jovem ouve, percebe e sente toques em seu corpo, mas não tem como comunicar seus desejos e anseios. Os dois passam a se conhecer tanto pelo que transmitem um ao outro – Thibault em suas confidências, Elsa tentando demonstrar que corresponde a seus estímulos – quanto pelo que os amigos da montanhista comentam a respeito do rapaz ou falam a ele sobre Elsa. Junto da moça em coma, Thibault sente-se tranquilo e protegido da revolta contra o irmão, internado em estado grave no mesmo hospital. Elsa, embora cercada pela família e por amigos, se entusiasma com a ousadia de Thibault, que não se acanha em beijá-la. E quando os parentes discutem a possibilidade de desligar os aparelhos que a mantêm viva, é com ele que Elsa conta para lutar por sua própria sobrevivência.

Eu estou aqui foi um livro que me conquistou primeiramente pela capa, eu a achei muito bonita, e esse olhar intenso me deixou extremamente curiosa para saber sobre a história. E então, após conferir a sinopse, percebi que eu precisava muito ler esta obra. Eu achei a trama delicada, envolvente e curiosa. Pode parecer macabro o cenário e a situação que a autora usou para contar sobre uma história de amor, porém, sua escrita é tão leve e única que é impossível não amar o começo de tudo. É uma leitura emocionante!

Elsa é uma montanhista, e encontra-se em coma há cinco meses após sofrer um acidente em uma geleira. Sua situação é complicada, pois não há nenhuma esperança que ela saia do coma. O mais desesperador é que ela não consegue se mover, mas sua mente está ativa. Ela escuta tudo o que falam em seu quarto: as constantes conversas de sua irmã sobre os namorados, a difícil decisão de seus pais sobre desligar ou não seus aparelhos e até mesmo quando um homem entra em seu quarto por engano.

Essa pessoa é Thibault. Após seu irmão dirigir embriagado e matar duas adolescentes, ele encontra-se em uma batalha interna sobre odiá-lo e, ao mesmo tempo, indeciso quando leva sua mãe para visitá-lo se ele também o quer ver. É brutal a raiva que ele sente do irmão, apesar de compreensível, o mais triste é ver uma mãe presenciar esse ódio, e saber que não tem escolha, ela é a mãe, precisa estar presente para o filho. Thibault então, resolve se refugiar no quarto de Elsa, mesmo que tenha entrado por engano, pois percebe que lá dentro é tudo calmo.

E ele acaba voltando sempre. É um vício poder falar com Elsa, confidenciar suas emoções, e pensar em como ela seria antes. É inebriante acompanhar esses momentos, pois é um romance que surge aos poucos, praticamente sem contato físico, apenas emoções. É algo lindo, mesmo que possa parecer estranho. 

A narrativa é intercalada entre os dois personagens, e por isso conseguimos sentir que Elsa também fica extasiada com as visitas de Thibault, suas sensações vão surgindo a cada dia, apenas com sua presença e conversas. Ambas as narrativas são cheias de sentimentos, e apesar de a trama não ter um ponto alto, ou uma grande ação, o que torna a leitura magnífica é a expectativa. O desejo de que Elsa acorde.

A leitura é extremamente fluída, os capítulos são curtos, e a narrativa é envolvente e fácil. Está não é uma história de amor arrebatadora ou algo do tipo. É uma história que fala sobre decisões, eutanásia, esperança e amor. Eu amei cada palavra da autora, e fiquei com muita vontade de ler mais obras suas. Minha única frustração com a leitura foi o final, eu odeio finais que deixam o leitor imaginando o que aconteceu depois, odeio! Mesmo sentindo que foi a melhor forma de acabar, eu fiquei com um sentimento de vazio. Foi um livro que me deixou por horas pensando em tudo o que eu li.

A edição da Rocco está linda, a fonte tem um tamanho agradável para ler. Eu estou aqui faz parte da coleção <3 Curti. Recomendo a leitura para quem gosta de histórias dramáticas e sensíveis.