[Resenha] O menino que desenhava monstros

Autor: Keith Donohue
Páginas: 256
Editora: DarkSide
Jack Peter é um garoto de 10 anos com síndrome de Asperger que quase se afogou no mar três anos antes. Desde então, ele só sai de casa para ir ao médico. Jack está convencido de que há de monstros embaixo de sua cama e à espreita em cada canto. Certo dia, acaba agredindo a mãe sem querer, ao achar que ela era um dos monstros que habitavam seus sonhos. Ela, por sua vez, sente cada vez mais medo do filho e tenta buscar ajuda, mas o marido acha que é só uma fase e que isso tudo vai passar. Não demora muito até que o pai de Jack também comece a ver coisas estranhas. Uma aparição que surge onde quer que ele olhe. Sua esposa passa a ouvir sons que vêm do oceano e parecem forçar a entrada de sua casa. Enquanto as pessoas ao redor de Jack são assombradas pelo que acham que estão vendo, os monstros que Jack desenha em seu caderno começam a se tornar reais e podem estar relacionados a grandes tragédias que ocorreram na região. Padres são chamados, histórias são contadas, janelas batem. E os monstros parecem se aproximar cada vez mais. Na superfície, O Menino que Desenhava Monstros é uma história sobre pais fazendo o melhor para criar um filho com certo grau de autismo, mas é também uma história sobre fantasmas, monstros, mistérios e um passado ainda mais assustador. O romance de Keith Donohue é um thriller psicológico que mistura fantasia e realidade para surpreender o leitor do início ao fim ao evocar o clima das histórias de terror japonesas.

O menino que desenhava monstros é mais um lançamento incrível que a editora DarkSide acrescentou ao catálogo deles. Quem já conhece o trabalho da editora sabe que as edições são sempre muito lindas e caprichadas. E nesta obra não foi diferente. Eu, antes mesmo de lançar a obra, já tinha me encantado com a capa e título, sério. Só com isso! Quando o livro chegou aqui em casa o amor só aumentou. A curiosidade e ansiedade em iniciar a leitura foi enorme. E se eu fosse destacar apenas um detalhe no livro seria: o final! Sabe aqueles livros em que o final vale por todo o enredo? Aquele final que te surpreende tanto que não importa se o desenvolvimento foi fraco ou insatisfatório? Foi o que eu senti quando terminei O menino que desenhava monstros. Eu esperava um pouco mais da trama, mas aquele desfecho me fez favoritar o livro. Simples assim.

Sim, eu gostei da história. Porém, eu preciso confessar que esperava algo mais assustador do que o descrito. É nítido que o autor tentou focar em um medo mais figurativo ao mostrar monstros que impactariam em segredos familiares e acontecimentos marcantes em uma família. Em grande parte da leitura o leitor se pergunta se tudo o que está acontecendo é real ou imaginação de todos?! Mas, já aviso que o que importa não é realmente se existem monstros embaixo da cama, mas sim, mostrar os dramas de uma família desestruturada emocionalmente e que precisa lidar com uma criança que mostra que monstros são mais reais do que imaginamos quando se trata de ter medos.

Jack tem síndrome de Aspeger, uma doença que o faz ser completamente inapto a interagir socialmente. Três anos atrás, quando quase morreu afogado, sua doença só piorou. Ele não quis mais sair de casa, e seu novo hobbie era desenhar monstros. Seu único amigo, Nick, sempre permaneceu por perto apesar de toda a esquisitice de Jack. O garoto a cada dia desenha mais e mais monstros, e é quando a imaginação e realidade se colidem. Os pais de Jack percebem que o filho falara a verdade quando disse que tinha monstros querendo entrar em casa. 

O medo cristaliza o tempo, faz com que este se torne lento e sossegado.

O pai de Jack avista uma criatura estranha na neve, e é quando nos perguntamos até onde vai a imaginação das pessoas. O quanto elas projetam seus medos na realidade a ponto de conseguirem transformar aquilo em algo verdadeiro? É a partir desse ponto que vamos descobrindo segredos daquela família, além de acompanhar uma mãe que tem medo do próprio filho. 

Essa é uma leitura um pouco lenta, mas de nenhuma forma ruim, o autor nos conduz no seu ritmo ao desfecho, que me deixou de boca aberta. Eu gostei da trama, apesar de esperar um pouco mais de terror. O livro pode não dar medo, nem nada do tipo, mas nos relembra de momentos da infância em que tínhamos nossos próprios monstros no armário e embaixo da cama, e lhes digo que não é agradável relembrar esses momentos.

O menino que desenhava monstros foi uma leitura extremamente marcante, os personagens te fazermsentir muita raiva por atitudes impensadas e precipitadas. E apesar de eu não ter sentido medo dos monstros de Jack, confesso que eu senti um pouco do próprio garoto! Eu fiquei a todo momento esperando ele fazer algo assustador ou violento. E é horrível ficar nessa expectativa.

A edição do livro está muito linda, como sempre, a capa é dura e os detalhes internos são maravilhosos. Eu simplesmente amei essa capa, achei que combinou bem com o enredo, e adorei a combinação de cores. Eu recomendo muito a leitura!