quinta-feira, 4 de agosto de 2016

[Resenha] Flores

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Autor: Afonso Cruz
Páginas: 272
Editora: Companhia das Letras
Um homem sofre muito com as notícias que lê nos jornais, com todas as tragédias humanas a que assiste. Um dia depara-se com o fato de não se lembrar do seu primeiro beijo, dos jogos de bola nas ruas da aldeia ou de ver uma mulher nua. Outro homem, seu vizinho, passa bem com as desgraças do mundo, mas perde a cabeça quando vê um chapéu pousado no lugar errado.Contudo, talvez por se lembrar bem da magia do primeiro beijo e constatar o quanto a sua vida se afastou dela , o homem decide ajudar o vizinho a recuperar todas as recordações perdidas. Em seu livro mais recente, o português Afonso Cruz apresenta uma bela reflexão sobre o amor e a memória.

Como eu já tinha comentado em outra resenha, não sou uma leitora que faz resenhas críticas e meu objetivo não é avaliar obras literárias, clássicas ou não. Leio apenas pelo prazer da leitura, e apesar de sentir que esse livro exige uma avaliação mais profissional – afinal, tem na contracapa um elogio do Mia Couto, considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique e ganhador de diversos prêmios literários – esperem de mim apenas minha opinião pessoal e não uma análise da obra propriamente dita.

Mesmo que a sinopse fale do homem que decide ajudar seu vizinho a recuperar suas memórias perdidas por causa de um aneurisma, senti que esse homem estava mais buscando significado em suas próprias memórias. Como alguém que tem lembranças, mas não consegue mais relacionar essas mesmas lembranças com sentimentos, nem de felicidade, nem de tristeza.

Creio que, numa relação, o beijo terá sempre de manter a densidade do primeiro, a história de uma vida, todos os pores-do-sol, todas as palavras murmuradas no escuro, toda a certeza do amor. Mas já não é assim. (…)
(…) Toco levemente os lábio dela e sabe-me à rotina, às finanças, ao barulho da máquina de lavar roupa. 

E talvez por essa falsa tentativa de auxílio, em que o personagem não compreende suas ações egoístas e não é capaz de sentir nem mesmo remorso pelas pessoas que magoa no caminho para o autoconhecimento, eu não consegui sentir empatia pelo personagem, e acho que esse detalhe fez a leitura ficar um pouco pesada. Afinal de contas, quem se sente tranquilo lendo um livro em que o protagonista é um canalha, que fica tentando se redimir consigo mesmo ao parecer solidário com o problema de um vizinho de porta ignorado por anos a fio? Mas apesar de um certo mal estar e da editora ter escolhido manter a grafia vigente em Portugal, esse é um livro muito coerente. Me fez pensar sobre o individualismo humano, sobre o torpor em que levamos a vida e na maioria das vezes, sequer percebemos.

Todos temos sonhos, e todos os sonhamos com grandeza. Não há motivo para ser de outra maneira, se queremos fugir ao sonambulismo que a vida acaba por nos oferecer em conjunto com tantas frustrações.

Se você é do tipo que se sensibiliza lendo ficção, talvez acabe achando essa leitura um pouco árdua, mas toda a reflexão sobre sobre o amor, mesmo que seja amor próprio e sobre a criação da identidade a partir da nossa forma de enxergar o próprio passado, nossa história, faz a leitura valer muito a pena.

10 comentários:

  1. Oiii Ana, como vai menina/
    Fiquei bastante interessada em realizar a leitura desse livro, de certa maneira ele mexeu comigo, gosto de livros trazem a reflexão, ainda mais sobre esses assuntos, adorei a dica.
    Beijinhos

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  2. Oi, confesso que a premissa do livro não me interessou, por achar que não faz o meu estilo e achar a historia meio sem graça, por isso, deixo passar a dica.
    bjus

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  3. Oi, Ana!
    Também costumo ler por puro prazer, apesar de ainda ser um pouco crítica com certos detalhes porque eu realmente sou exigente às vezes, mas interessante a sua indicação. Infelizmente não é uma premissa que me chame a atenção, por mais que a história pareça ser muito profunda, mas já que você também citou o peso que ela parece ter devido à personagem, também não acho que seja muito o meu tipo de leitura.
    Beijos!

    ♥ Sâmmy ♥
    ♥ SammySacional ♥

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  4. Hey, tudo bem?
    Eu até gostei da sinopse do livro mas me parecia ser um livro parado então não me interessei muito. Depois da sua resenha eu fiquei em dúvida se acho a mesma coisa do vizinho ou não pois nem tinha pensado nisso... Enfim, acho que vou procurar saber mais opiniões do livro para ver se leio ou não.
    Beijos

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  5. Não me interessei pela leitura, por muitos motivos. Não gosto de ler livros com português de Portugal, me incomoda. Não suporto protagonistas canalhas, também não conseguiria sentir empatia o que tornaria a leitura pesada para mim também. E também foco na minha opinião nas resenhas, e gosto de ler resenhas assim.

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  6. Helloo, tudo numa nice?!
    Eu não conhecia um livro e às vezes quando vejo um livro clássico e eu acabo não gostando como a maioria e vejo por outra ótica acabo duvidando de mim mesma. Já aconteceu de eu não gostar de um cânone de forma alguma. Acho que é um pouco complicado ler em português de Portugal - já li uma vez e demorei um pouco para terminar leitura. Esse livro parece que é um pouco parado então não me interessei de verdade.
    Beijin...

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  7. Oi, Ana. Tudo bem?

    Vou confessar que a capa me chamou muita atenção mas a premissa não mexeu tanto comigo. Provavelmente se chegasse a escolher esse livro para a leitura ficaria cheia de expectativa depois da opinião positiva de Mia Couto e igualmente frustrada após a leitura.
    Não sou muito exigente com relação a me identificar com um personagem mas já tive experiências em que um "motivo nobre" descrito pelo autor se mostrou igualmente egoísta e não consegui nem mesmo terminar a leitura.
    Talvez a leitura valha pelo que, como você disse, acrescenta em sua reflexão e passeio pelo próprio interior mas não acredito que me arriscaria só por isso, é uma pena, eu realmente gostei da capa, rsrs.

    Um beijo!
    Crônica sem Eira

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  8. Olá! Eu amei a capa, realmente muito interessante. Me interessei pela história, apesar de ficar um pouco receosa porque também não me identifico com personagens principais que sejam vilões, canalhas ou não façam as coisas de forma correta. Vou procurar para ler, pois fiquei curiosa pelas reflexões que você mencionou.
    Beijos.
    Karla Samira
    www.pacoteliterario.blogspot.com.br

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  9. Olá! Eu amei a capa, realmente muito interessante. Me interessei pela história, apesar de ficar um pouco receosa porque também não me identifico com personagens principais que sejam vilões, canalhas ou não façam as coisas de forma correta. Vou procurar para ler, pois fiquei curiosa pelas reflexões que você mencionou.
    Beijos.
    Karla Samira
    www.pacoteliterario.blogspot.com.br

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  10. Oi, a capa deste livro é linda e já vi diversas resenhas dele, mas apesar de tudo nunca consegui me interessar, além disso não estou em um bom momento para ler esse livro principalmente pelo peso que vc cita que ele trás, eu passo

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