[Resenha] Sombra do paraíso

Autor: David S. Goyer e Michael Cassutt
Páginas: 456
Editora: Aleph
Série: Saga de Keanu
No ano de 2016, cientistas descobrem um astro de natureza desconhecida se aproximando da Terra. Batizado de Keanu, ele logo se torna o destino de uma corrida espacial em pleno século 21. A NASA e a coalizão Rússia-Índia-Brasil passam a concorrer entre si, em uma missão de descobrimento científico temperada com intrigas políticas. Em meio a conflitos pessoais e familiares, o comandante norte-americano Zack Stewart e sua tripulação enfrentam uma perturbação na já complicada rotina no espaço. Keanu é muito mais do que aparenta, e logo os cosmonautas da Destiny-7 e da Brahma veem sua importante missão se transformar em uma aventura perigosa, sem precedentes na história da humanidade. Com um enredo misterioso, envolvente e inquietante, Sombra do paraíso é o primeiro volume da saga de Keanu, escrita a quatro mãos por dois grandes nomes do cinema e da televisão. Uma obra surpreendente, rica em detalhes sobre viagens espaciais e indispensável para todos os amantes das ciências e de aventuras no espaço.

Mais uma aventura no espaço, dessa vez um pouco mais perto da quase "possível" realidade de um asteroide atingir o planeta Terra. Os autores parecem que adivinharam, não? Esse livro foi lançado em 2011 nos EUA e aqui no Brasil em 2015; o tal astro desconhecido do livro é descoberto em 2016, e na nossa realidade quase a mesma coisa. Muita coincidência, principalmente pelo momento que decidi pegar esse livro para ler.

Sombra do Paraíso é classificado como um livro de ficção especulativa, onde cria uma teoria insana por o caso de um astro se aproximar da rotação da Terra e se manter por lá, como se estivesse acompanhando e monitorando nosso planeta. 

Nesse livro, os anos que transcorrem essa aventura, passam por 2016, 2017 e 2019, esse último sendo a principal narrativa do livro, quando duas naves estão prestes a pousar no tal objeto desconhecido, identificado pela Nasa como Keanu (por causa de Keanu Reeves) e classificado como um NEO (Near-Earth Object/Objeto Próximo à Terra). Uma das naves é americana (Nasa), com quatro astronautas (dois homens e duas mulheres), e a outra é da coalização (acordo político) entre Rússia-Índia-Brasil, também com quatro astronautas (três homens e uma mulher), sendo um indiano, dois russos e um brasileiro.

A narrativa de tensão envolvendo o momento do pouso logo no começo do livro me lembrou muito Perdido em Marte (mas não possui toda a força e diversão narrativa que esse livro tem). A tensão já começa logo nas primeiras páginas e você se vê jogado entre o presente em 2019 - quando as naves estão para pousar - e em 2016 quando descobrem o tal astro, e toda uma missão que seria para a Lua é direcionada para esse objeto, muito por questões políticas, pois a coalizão já estava com sua rota definida e a Nasa não gostaria de ficar para trás. 

Todos os detalhes técnicos e científicos descritos, a comunicação com a base de apoio na Terra e os fatores de reconhecimento de um ambiente novo - talvez hostil -, foram bastante interessantes de acompanhar, principalmente por eu ter feito paralelo com Perdido em Marte (li no início do ano passado e se tornou um dos favoritos da vida). Portanto não tive como deixar de comparar, e isso meio que me ajudou a entender todo o sistema e como as coisas funcionavam. 

A disputa política para saber quem vai pousar primeiro, as questões técnicas nos mecanismos e desbravamento do território, além de todo assunto filosófico envolvido quando os astronautas começam a descobrir o que realmente Keanu representa, foi muito bom no começo até o meio do livro. 

São muitos personagens, tanto no centro espacial da Nasa que fica em Houston e o controle da coalizão em Bangalore na Índia, quanto os familiares e a relação com a vida e o passado dos astronautas, com suas motivações e receios, problemas e passados. Tudo se misturava e virava uma bola de informação que às vezes não se conectava, e por outras não eram necessárias para o enredo.

Percebi um detalhe - não sei se era uma referência - parecido com o livro A Guerra dos Mundos do H. G. Wells em uma das cenas finais; também fiz relação com o que é descoberto em Keanu, com um dos contos que li em Realidades Adaptadas do Philip K. Dick.

Os escritores são roteiristas, e o mesmo ponto que citei na minha resenha de Cyberstorm, volto a dizer aqui, pois nesse livro se vê muito das incoerências e exageros dos blockbusters hollywoodianos, sendo que existem muitos filmes bons (como Interestelar), mas trazer isso para um livro, precisa de uma qualidade de narrativa superior e mais profunda, onde precisa ser muito bem explicada, e não apenas jogada esperando que os leitores acenem a cabeça e concordem com tudo o que está descrito; principalmente se o leitor já leu algumas obras de ficção científica e tem certa "noção" das coisas. Quando a explicação e as questões bizarras começaram a acontecer, eu fiquei esperando até que ponto eles iriam levar aquela história e como queriam fazer relação daquilo com a Terra.

É uma obra que tem bastante ação, e faz parte de uma trilogia. Quem não tem costume de ler livros nesse estilo, é uma boa escolha para iniciar nesse mundo e perder o medo, mas quando você descobrir as verdadeiras obras de escritores consagrados na ficção científica, daí você não se contentará com obras rasas que erram demais ao tentar criar algo novo.