[Resenha] Melodia do mal

Autor: John Ajvide Lindqvist
Páginas: 488
Editora: Tordesilhas
O músico frustrado Lennart Cederström encontra, no meio de um bosque, uma bebê recém-nascida à beira da morte. Sem nada que diga de onde ela veio ou como foi parar lá, a bebê começa a cantar perfeitamente. Assombrado, Lennart a leva consigo para sua casa, em que vive com a mulher e o filho rejeitado, e a prende no porão. Apelidada de Pequenina pela família postiça, a criança cresce isolada do resto do mundo e, quando finalmente sai do cativeiro, acaba por revelar uma força sinistra e assustadora, deixando um rastro de sangue e angariando seguidores fanáticos em seu caminho.

Melodia do mal é um livro que eu queria ler faz tempo, mas o tamanho sempre me assustou um pouco, então fui protelando a leitura. Agora, de férias, não tive mais desculpas e finalmente li. Por incrível que pareça, apesar da obra ter quase quinhentas páginas, é uma leitura tão envolvente que acaba sendo muito fluída, consegui ler em dois dias. Finalizei Melodia do mal com uma sensação ruim, que perdura até hoje. É um livro visceral, cruel e com um terror psicológico do início ao fim do enredo. Não é um enredo tipo filme de terror/suspense que você vai levar um susto a qualquer momento, o horror já está incrustado nas páginas.

Lennart era um músico famoso, porém, a vida lhe deixou frustrado e amargurado. Certo dia, quanto estava indo colher cogumelos no bosque, ele encontra um bebê dentro de uma sacola em uma cova rasa. Quando ele tira a criança da sacola, ela emite uma nota perfeita, como se estivesse cantando. Lennart decide então levá-la para casa e a cria em seu porão, sem contato nenhum com outras pessoas, além de sua mulher e do filho rejeitado. 

Logo de início percebemos que a Pequenina, como eles chamam a garotinha, não é muito normal. Ela não se expressa, não mostra sentir nada, nem mesmo dor, e tem dificuldades de aprendizado. No entanto, em relação a música, ela a cada dia melhora mais. A música é tudo para a Pequenina. Seu temperamento não é explosivo, mas o leitor fica com aquela sensação de perigo perto dela. A garota cresce, e esse medo fica ainda maior. E ninguém parece se importar com o que pode acontecer.

A obra aparenta ser sobrenatural, e realmente terminei a leitura esperando algo do tipo, mas o mais fascinante é que o autor consegue nos envolver sem colocar nada disso. O horror todo gira em torno desta garotinha, que mesmo tendo algo de errado com ela, nos fascina com sua inocência. O enredo também nos mostra personagens inseguras, que buscam em Theres -  a Pequenina - uma salvadora. 

Conhecemos também a personagem Teresa, uma garota da mesma idade de Theres, que é depressiva e antissocial. Ela é a que mais depende de estar perto de Theres, sua felicidade se baseia nos momentos em que as duas estão juntas. Senti que Theres acaba despertando o pior das pessoas, conforme avançamos na leitura, encontramos mais garotas problemáticas, que não se dão conta do horror que se aproxima.

É uma leitura perturbadora, talvez não seja indicada para qualquer pessoa, mas para aqueles que amam o gênero é uma obra que eu indico sem dúvidas. O autor tem uma escrita muito envolvente, e as cenas que ele descreve são realmente de embrulhar o estômago. Apesar de todo o horror que encontramos nas páginas, é impossível não querer continuar lendo. O final é bastante marcante, eu gostei de como o autor finalizou a trama. Alguns pontos ficam sem respostas, mas nada que impeça o leitor de gostar da obra como um todo. 

Eu nunca havia lido nada do autor, e após finalizar Melodia do mal, e de ter gostado bastante de sua narrativa, fiquei bem interessada em conhecer mais obras dele. A edição da Tordesilhas está magnífica. A capa combina bastante com o enredo, todo aquele ar de inocência, mas que no fundo tem algo cruel. A editora mais uma vez trouxe uma obra incrível.