[Resenha] Minha irmã mora numa prateleira

Autora: Annabel Pitcher
Páginas: 232
Editora: Rocco Jovens Leitores
Jamie Matthews tem 10 anos de idade e uma família desintegrada por uma tragédia: aos cinco, sua irmã gêmea foi morta num ataque terrorista em Londres. De lá pra cá, sua mãe saiu de casa, seu pai bebe cada vez mais, sua irmã mais velha se transformou numa típica adolescente rebelde. Em meio ao luto e ao clima de ódio e ressentimento que Jamie sequer entende muito bem, ele encontra numa amiga de origem islâmica a companhia e o afeto de que precisa. Livro de estreia de Annabel Pitcher, Minha irmã mora numa prateleira recebeu resenhas elogiosas de publicações de prestígio na Grã-Bretanha como o Guardian e o Telegraph.

Minha irmã mora numa prateleira é uma leitura delicada, que fala sobre perda, amizade, família e preconceito. A autora criou uma trama bastante real e emocionante. Jamie narra sua história, e achei incrível a forma como Annabel Pitcher deu voz ao personagem de dez anos. Parece que é realmente Jamie, um garoto de apenas dez anos, que está escrevendo o livro, e não a autora. Essa é uma leitura dramática, várias situações nos dão raiva, mas são situação que podem muito bem ser verdadeiras. A obra retrata sobre uma família que está em luto, uma das gêmeas foi morta em um ataque terrorista, e o que sobrou foi um relacionamento familiar conturbado e triste. A família está despedaçada. Eu gostei bastante dessa premissa, por isso tive muito interesse em ler a obra.

Jamie tinha apenas cinco anos quando sua irmã morreu. Por não se lembrar muito de Rose, ele acaba que não passando pelo sofrimento e pelo luto, diferente dos pais e da irmã Jasmine. Essa falta de sentimento incomoda seus pais, que não entendem porque ele nunca chorou pela morte da irmã, ou porque não sente falta dela. Mas, para Jamie o mais importante é sua família, a que está ali, mas ao mesmo tempo não está. Sua mãe abandonou o marido e os filhos e se juntou com um homem do grupo de apoio que participa. Seu pai lamenta, mesmo cinco anos depois, a morte da filha, e se embebeda todo dia. Sua irmã se rebelou e pintou o cabelo, fazendo com que a relação dos pais ficasse ainda mais balançada, pois ela não se parece mais com Rose.

Quando Jamie, Jas e o pai se mudam de Londres, o garoto pensa que será uma nova forma de recomeço. Porém, nada muda. O pai continua bebendo. E na escola os garotos fazem bullying com ele. A única pessoa que o entende é Sunya. Mas ela é muçulmana, e seu pai não aprovaria essa amizade. Por isso, ele reluta em ficar próximo da garota, por mais que ela acabe forçando um relacionamento, e se mostre alguém engraçada e confiante.

Se a culpa fosse um animal, então seria um polvo. Todo pegajoso e ondulante com centenas de tentáculos que envolvem suas entranhas e as apertam bem apertadas.

É triste a vida de Jamie. Ele tem uma irmã morta que não se lembra. Um pai ausente. Uma mãe que o abandonou. A única pessoa que lhe restou foi Jasmine, sua irmã mais velha. Que é quem está sempre por perto. Mas ele tem medo de que ela também se vá. É muito horrível ver o abandono de sua mãe. Fiquei aflita e com raiva de ver o quanto o garoto sentia saudade dela. Como ela pôde deixar seus filhos dessa forma? Eu entendo que a dor dela deve ser enorme, mas cinco anos se passaram, e os filhos que estão vivos não mereciam viver na sombra de Rose, como se eles não importassem.

Minha irmã mora numa prateleira é uma leitura muito tocante, e eu poderia falar por horas sobre tudo o que eu fiquei com raiva e tudo que me emocionou. Essa é uma história que mostra que o luto muitas vezes pode prejudicar as pessoas que você ama, e que ainda estão por perto. O enredo também nos mostra uma bela amizade que surge entre Jamie e Sunya. Apesar de todo o preconceito do pai, o garoto percebe que uma pessoa é muito mais que um estereótipo. 

Eu amei cada partezinha dessa obra. Apesar de ser uma leitura dramática, também é algo que te inspira a acreditar em coisas boas. Em recomeços. Jamie, Jasmine e Sunya foram os melhores personagens do livro. Cada um me conquistou de alguma forma. Eu recomendo a leitura!