segunda-feira, 24 de julho de 2017

[Resenha] Solaris

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Autor: Stanislaw Lem
Páginas: 320
Editora: Aleph
Quando o psicólogo Kris Kelvin chega em Solaris para estudar o oceano vivo – e possivelmente inteligente – que cobre a superfície do planeta, ele encontra colegas de trabalho hostis e amedrontados. Logo Kelvin descobre que esses respeitados cientistas estão sendo perturbados por estranhas aparições, que também começam a afetar sua própria percepção. O que ele vê são suas memórias mais obscuras e reprimidas, materializadas por obra de alguma misteriosa força atuante no planeta. Publicado pela primeira vez em 1961, este clássico da ficção científica, aqui traduzido diretamente do polonês, ganhou três adaptações cinematográficas, sendo que a versão dirigida por Andrei Tarkovsky em 1972, recebeu o Grand Prix no Festival de Cannes.



O ser humano resolve compreender o funcionamento de um novo planeta ao tentar decifrar os enigmas de uma possível consciência de um oceano vivo quando ele próprio ainda nem sabe nada sobre ele mesmo, nem sobre o planeta onde ele vive, perdeu a fé e não suporta encarar a si próprio nos seus erros, falhas e acha que pode encontrar um caminho para não sofrer, dentro das tentativas de entendimento de algo incompreensível e vasto longe do planeta Terra e do que ele entende sobre o mundo.

Em uma narrativa com toque de thriller, o autor nos conduz entre os corredores da Estação que plana sobre o planeta misterioso, Solaris, objeto de pesquisa ao longo de muitos anos com uma série de divergências entre todas as teses, e mesmo sem nunca compreender e encontrar um consenso (algo realmente impossível na ciência), o ser humano insiste em manter a curiosidade em torno daquilo que vai além da sua compreensão.

Assim que a leitura segue seu ritmo de mistério e suspeitas, o autor me convence que uma boa aventura está a caminho, e eu estava à espera de seres estranhos e conflitos entre os tripulantes da Estação, assim como debates e medos inerentes ao ser humano. Até certo ponto isso aconteceu, e toda a fluidez da narrativa ajudava, mas assim que o personagem principal, Kris Kelvin, se encontrava na biblioteca, pesquisando os livros sobre o tema "solarística" e todas as análises, pesquisas e depoimentos sobre os desastres de outras tripulações e viagens vinham à tona, mais a narrativa se desgastava e muita coisa sem sentido aparecia. Nomes foram criados para tentar dar um toque de assimilação para os fatos estranhos e formas grotescas que aconteciam no oceano negro e vivo, em que o próprio narrador dizia ser impossível para o ser humano distinguir sem fazer relação com o que ele conhece. E isso me induziu a fazer um paralelo com a leitura de O problema dos três corpos, em que fui sugada para dentro da história, com todas as teorias de matemática, física, etc, que foram bem executadas, e as conexões fizeram sentido ao serem inseridas dentro de um jogo virtual, mas na narrativa do Stanislaw Lem, as coisas não saíram tão bem, pois me pareceu que o autor tentou criar uma nova ciência sobre algo que não existe, uma nova biologia, química, física, que não convergiram em um mesmo ponto.


Fui pesquisar um pouco sobre o autor e sobre sua vida, e logo percebi algumas questões que com certeza influenciaram sua obra. Ele viveu na época da Segunda Guerra Mundial, recorreu a documentos falsos para sobreviver e provavelmente vivenciou muitas dores e perseguições, e isso deflagrou em sua obra, juntamente com a questão da fé, pois ele se considerava ateu, e seu posicionamento fica claro nas reflexões finais do livro. Em uma entrevista concedida em 2003, o autor disse: "Eu não me envolvo na interpretação de meus livros; deixo essa tarefa para o leitor. E eu nunca me sentei na minha mesa de escrever com um plano completo para o livro inteiro. O último capítulo de "Solaris" foi escrito após uma parada de um ano. Eu tive que deixar o livro de lado, já que não sabia o que fazer com meu herói. Hoje, eu nem mesmo me lembro a razão de não conseguir terminá-lo por tanto tempo...". Eu claramente percebi que o final do livro manteve um certo distanciamento do início do enredo, e somado com as ilusões de um personagem perdido, a finalização não foi tão espetacular para mim.

Tirando todas as divergências que não me conectaram e sem toda as partes chatas e explicativas dentro da possível ciência do planeta, a obra poderia seguir como uma investigação policial, ponto que até é levantado por um dos personagens que vive dentro da Estação Solaris.

Se você possui a curiosidade sempre plausível para mundos fictícios e realidades especulativas, ainda mais de uma obra de um autor polonês - que não se vê tanto assim no Brasil - Solaris é uma boa aventura para recorrer, mas pra mim não é a melhor.

9 comentários:

  1. O autor realmente não parece preocupado se a obra faz sentido ou não. Eu me incomodo muito com isso. O escritor precisa ter zelo e coerência com a história, pois qual o sentido de criar uma coisa desconexa e achar que tá tudo bem? Não fiquei interessada porque não gosto de livros assim, com histórias, invenções malucas que só o autor entende. Nesse caso, o autor parece não entender mesmo.

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  2. Oi Dandra, ficção é um gênero que quase nunca busco e apesar de existir a curiosidade pelo fato do autor ser polonês, os problemas que você destacou parecem fazer a diferença de forma negativa pra história. Estranhei essa parada de um ano pra escrever um final adequado e o autor parece pouco preocupado com o resultado de sua obra, não se querendo nem interpretá-la deixando isso para os leitores. Gostei da sinceridade da resenha ;)

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  3. Ai, esse gênero não me chama nem a remota atenção :/
    Fiquei um pouco confusa com a resenha, não que esteja ruim, é porque quando é desse gênero acontece isso mesmo. Acho que por eu não gostar, acabo fugindo do universo que o livro traz.
    Vi que você também não gostou tanto, então pulo a dica. Beijoos

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  4. Nao É um dos gêneros q eu mais gosto, parece ser uma leitura um pouco cansativa, ou seria pra mim ja que nao curto muito o gênero, pareceu ser um livro que o autor não deu muita atenção considerando a demora do ultimo capitulo, provavelmente não leria o livro. A história não me pegou.

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  5. Esse mistério em volta da história e essa investigação toda, até que aguçam nossa curiosidade.
    Mas confesso que a obra não faz meu tipo de leitura!
    E por me parecer ser uma leitura não muito positiva, não leria o livro no momento.
    A premissa é até que interessante... mas... por enquanto não rola.
    Beijos
    Caroline Garcia

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  6. Mesmo sendo um livro com teses cientifica, achei bem legal. Sou apaixonada por me aventurar no mundo da ciência e adoraria ler esse livro!
    bem diferente do gênero que costumo ler, porém sempre tento procurar novos gostos.
    Beijos.

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  7. Quando li a sinopse me senti um pouco balançada e curiosa para saber um pouco mais deste planeta fictício, e onde entraria o psicologo nesta trama, mas após ler sua resenha fiquei muito confusa, me pareceu ter muitas explicações, e a estória me pareceu ir além da escrita, onde teríamos de fazer uma interpretação, um olhar além do que nos apresentados para podermos compreender o que nos e apresentado. Por isto neste momento não e tipo de estória que me cativa, porém acredito que talvez possa mudar de ideia.

    Participe do TOP COMENTARISTA de Julho, para participar e concorrer aos livros "O Casal que mora ao lado" e "Paris para um e outros contos".
    http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/

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  8. Olá!
    Um gênero de ficção é muito incrível, a forma de como ele cria algo que é ficção. Gostei do livro, tem uma premissa maravilhosa é algo para que fique pensado sobre o planeta e como cuidamos dele, acho que envolve mais o menos isso, mas tem uma história maravilhosa.

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  9. Dandra!
    Tive oportunidade de ler esse livro, lá pelos idos dos anos 80, onde era (e ainda sou) fascinada por ficção científica. E lembro que fiquei apaixonada pelo enredo e talvez tenha feito psicologia, influenciada por tentar desvendar os tais fenômenos que assolavam a população.
    E quando assisti o filme, foi a coroação porque é bem fidedigno ao livro.
    Uma pena o livro não ter conquistado você...
    Bom final de semana!
    “Ciência é conhecimento organizado. Sabedoria é vida organizada.” (Immanuel Kant)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE JULHO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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