[Resenha] Quando tudo faz sentido

Autora: Amy Zhang
Páginas: 320
Editora: Rocco Jovens Leitores
Liz Emmerson é uma garota popular no colégio e tem uma vida aparentemente invejável. Por que ela tentaria tirar a própria vida, simulando um acidente de carro depois de assistir a uma aula sobre as Leis de Newton? Neste surpreendente romance de estreia, Amy Zhang, que nasceu na China e mora no estado de Nova York, aborda temas como abandono, bullying, depressão e suicídio com uma narrativa crua e pungente que vai arrebatar os fãs de obras como As vantagens de ser invisível, Nuvens de Ketchup e Meu coração e outros buracos negros, entre outros. Na trama, Liz é resgatada por Liam, um garoto que ela sempre desprezou, mas talvez uma das poucas pessoas ao seu redor capaz de enxergá-la além das aparências. Envolvente e emocionante, o livro – que prende também pelo mistério se a protagonista vai ou não sobreviver (e que só é revelado no final) – mostra a fragilidade, a solidão e os dilemas dos jovens de forma sensível e sincera.

Quando tudo faz sentido, escrita pela autora Amy Zhang, e publicada pela Editora Rocco, é uma obra delicada e que retrata sobre o bullying de uma forma um pouco diferente do que estamos acostumados. O grito de socorro não vem da vítima, e sim, de quem pratica o bullying. Esse acaba que por ser um tema ainda mais impactante, pois quando vemos histórias do tipo, sempre pensamos que o valentão precisa ser punido, correto? A história de Liz Emmerson nos faz perceber que muitas vezes esses jovens também precisam de ajuda e apoio. 

Liz é popular, assim como é amada por muitos, também é odiada. Sua fama de ser cruel com as pessoas, até mesmo com as amigas, faz com que os jovens a temam. Ninguém quer entrar no radar dela. Suas atitudes, a ausência da mãe após o falecimento do pai, fazem com que Liz se sinta vazia e arrependida. Sua vontade de viver vai diminuindo com os dias, e cada ação e consequência que provoca na vida das pessoas contribuem para o seu plano.

Depois de uma aula de física, e de tentar muito entender as três leis de Newton, ela decida como irá se matar. Basta um carro e uma curva, e pronto, é só fazer parecer um acidente. Porém, ela não morre imediatamente, ainda a levam com vida para o hospital, porém, sua situação é grave. E só no final do livro o leitor irá descobrir se ela sobreviveu ou não.

A história é contada por um narrador que não sabemos quem é, só que ele conhece bastante Liz. Seu ponto de vista intercala entre o passado e presente da personagem. Sem uma ordem cronológica, a autora nos mostra dias antes do "acidente" ou até mesmo alguns minutos. E mesmo a trama não sendo narrada de forma crescente, cada ida e volta na narrativa nos faz entender um pouco mais a garota e suas intenções.

Liz não é corajosa. Ela não é aquele personagem feminina determinada e de personalidade forte. Ela é aquela que prefere que todos a admirem do que explanar sua opinião. É aquela que não concorda com as maldades impostas a uma colega, mas que não faz nada. Com o tempo, ela acaba se tornando pior. E essa sensação de ser uma pessoa ruim a vai quebrando aos poucos. Então, ela não é uma personagem que admiramos. No entanto, também não é alguém que queremos que sofra. Essa é uma história que nos mostra que é possível, sim, dar segundas chances.

Algumas noites, Liz lembrava do passado e contava todos os corpos, todas aquelas vidas que ela arruinou simplesmente por existir. Então ela escolheu parar de existir.

A obra também retrata sobre aborto na adolescência e drogas. Assuntos muito comuns entre os jovens de hoje. Quando tudo faz sentido tem uma história triste e impactante. Eu achei que não ia conseguir me conectar com a trama e os motivos que fizeram Liz querer se suicidar, mas no final, acabei que por mostrando certa empatia pela situação, assim como pena. Às vezes só precisamos de alguém ao nosso lado para nos apoiar. Às vezes realmente é assustador ser a pessoa que não concorda com algo. 

A leitura não é leve, mas consegue ser fluída. Eu recomendo para todos aqueles que gostam do tema, mas que nunca viram o lado de quem pratica o bullying. Eu não acho que todos têm suas desculpas para agir mal uns com os outros, mas acredito que existem casos em que esse pode ser um pedido de ajuda.