[Resenha] La espía

Autor: Paulo Coelho
Páginas: 183
Editora: Grijalbo
Mata Hari foi a mulher mais desejada de sua época: bailarina exótica que chocava e encantava plateias ao se desnudar nos palcos, confidente e amante dos homens mais ricos e poderosos de seu tempo, figura de passado enigmático que despertava o ciúme e a inveja das damas da aristocracia parisiense. Ela ousou libertar-se do moralismo e dos costumes provincianos das primeiras décadas do século XX e pagou caro por isso: em 1917, foi executada pelo pelotão de fuzilamento do exército francês, sob alegação de espionagem. Em seu novo romance, Paulo Coelho revisita com brilhantismo a vida dessa mulher extraordinária, mostrando ao leitor que as árvores mais altas nascem das menores sementes.

Talvez dois detalhes neste livro influenciem minha resenha. O primeiro é que se alguém der uma olhada na minha estante do skoob pode notar que apesar de não ser meu gênero principal de leitura, mulheres fortes, da ficção, da fantasia ou da realidade são protagonistas em muitos dos meus livros mais bem avaliados. Eu prontamente me apaixono por mulheres que mesmo que obrigadas por uma cultura ou época em que a submissão é a única possibilidade ainda assim não se deixam abater e tomam um rumo próprio, se descobrem e na maioria das vezes torna o mundo ao redor delas um lugar melhor. O segundo detalhe é que o livro é escrito pelo Paulo Coelho, autor que eu simplesmente admiro muito.

Apesar da protagonista ter sido uma personagem real muito famosa na Europa do inicio do século XX, esse livro não apresenta uma biografia, o autor vai reunir nesse livro informações reais a respeito da personagem em forma de carta. O enredo todo é composto por duas cartas, uma escrita pela própria Mata Hari para seu advogado enquanto está presa a espera da sentença à respeito da acusação de espiã durante a primeira guerra mundial e a segunda escrita pelo seu advogado, como uma tentativa pós morte de salvar a reputação jogada na lama mesmo sem provas concretas.

Por lo tanto, escribo una carta que no será leída por su destinataria, pero que pretendo presentar como pieza final de la averiguación; aunque eso sea absolutamente inútil desde el punto de vista jurídico, por lo menos espero recuperar su reputación todavía em vida.

Na carta de Mata Hari, ela conta desde sua juventude em um colégio interno e seu casamento fracassado com um oficial do exército holandês numa tentativa de escapar de uma vida tediosa em um povoado tedioso, casamento esse que na verdade se tornou seu pior pesadelo. Ela discorre sobre como deixando o marido e os filhos para trás chegou a França e se tornou uma dançarina exótica, conta sobre seus amantes e de que modo se tornou um peão da conspiração internacional até ser finalmente julgada e executada como espiã e agente dupla.

Soy una mujer que nació en la época equivocada y nada podrá corregir eso. No sé si el futuro se acordará de mí pero, en caso de que eso suceda, que jamás me vean como una víctima, sino como alguien que dio pasos com coraje y pagó sin miedo el precio que debía pagar.

A respeito do livro, achei a narrativa sensacional. Paulo Coelho tem um lugar no meu coração. Mas principalmente a carta de Mata me convenceu como deve ser a carta de uma mulher que enxerga seu próprio valor, sabendo que seu tempo está contado. Embora suas escolhas sejam consideradas erradas, – mesmo nos dias de hoje, tenho certeza que ainda sofreria muitas críticas – ela não se abate em nenhum momento.

Sobre o livro ter sido lido em espanhol, o fato é que essa leitora que vos fala, está morando em Montevidéu, por isso meu acesso é basicamente literatura em espanhol, mas o livro já foi lançado no Brasil e de qualquer forma, os livros do autor Paulo coelho não tem um vocabulário muito difícil. A leitura foi bem tranquila. E o livro vale muito a pena, seja como romance ou história.