[Resenha] O circo mecânico Tresaulti

 Autora: Genevieve Valentine
Respeitável público, sejam bem vindos ao incrível Circo Mecânico Tresaulti, o lugar para quem acredita no mundo mágico que nos rodeia. Permita-me conduzi-lo por uma viagem única através da luz e das sombras onde descobriremos juntos uma nova forma de ver tudo e a todos. Onde não existe limite entre o picadeiro e a plateia, onde tudo é real e o único limite é a nossa vontade de sonhar.” Às vezes, o mundo pode parecer um lugar desolador e escuro, formado por vastas amplidões cheias de conflito, onde o que todos procuram é se agarrar a algo que os faça sobreviver ao dia seguinte. Pois em O Circo Mecânico Tresaulti esse deserto cheio de perigos é atravessado pela magia de uma potente força criadora, capaz de devolver a integridade emocional e física a quem se juntar à trupe. Em pleno cenário pós-apocalíptico, O Circo Mecânico Tresaulti ergue sua lona e dá início ao grande espetáculo. Ambientado sobre a perigosa superfície de um mundo devastado, cheio de bombas e radiação remanescentes de uma guerra pela qual todos já saíram derrotados, este belo romance nos apresenta uma caravana circense em eterna viagem através de muitas cidades sem país, região ou rota definida. Lugares que podem não mais existir quando o circo retornar. Aqueles que se juntam ao circo procuram segurança, trabalho sem risco de vida ou apenas uma nova forma de recomeçar. E seguir adiante, apesar de tudo. Boss, a força motora do circo, agrega novos personagens, atraídos pela sua habilidade muito especial para recuperar corpos mutilados pela guerra, criando assim magníficos seres mecânicos pós-humanos – repletos de complexas engrenagens, placas de ferro, pétalas de cobre, pulmões relojoaria, rodas e pistões –, cada um trazendo para o circo algo nunca visto e sentido antes.

O livro demorou tanto para chegar – quase um mês – que até achei que nem ia recebê-lo. Então, tive que me contentar com as resenhas que iam saindo por aí, e percebi que quase todas comentavam que o livro era ótimo, uma poesia com toques de steampunk e tudo mais. E não é que é verdade? É tudo isso e mais um pouco! O Circo Mecânico Tresaulti é extraordinário! Genevieve Valentine criou uma história diferente de tudo que você já leu, com uma narrativa bizarramente encantadora.

"Bem-vindos ao Circo Mecânico Tresaulti!", você aplaude como se sua vida dependesse disso, sem saber por quê.

 

O circo é comandado por Boss, uma mulher com um dom, quase uma magia: consegue reparar pessoas com ferimentos de guerra, os dando partes mecânicas. A maioria da sua trupe possui ossos de cobre, ou uma corcunda de metal, até mesmo asas! Em meio à guerra, o circo se mantém firme, indo de cidade em cidade para fazer seu espetáculo. Porém, há alguém que eles devem tomar cuidado: o homem do governo. Alguém que seria capaz de querer usar esse dom de Boss para criar soldados.

 

Acompanhamos com a narrativa em primeira pessoa de Little George e às vezes em terceira pessoa a história dos personagens de como chegaram até o circo e quando foram modificados. Não é toda a equipe que possui algo diferente, então os que possuem são o destaque na trama. A caravana é composta por pessoas em sua maioria de ex-soldados ou aqueles que querem segurança, teto e comida. É muito interessante sabermos o que os levaram até o circo, e conhecer suas habilidades. Mas, nem tudo é alegria, há muita competição entre eles. É uma relação constante de amor e ódio.

 

(Até Elena sentava-se conosco à fogueira da noite, meu Deus, e se ela estivesse em chamas nenhum de nós mijaria nela para apagar o fogo.)

O que pode confundir um pouco é a linha de tempo. Alguns capítulos começam narrando o passado e às vezes nesse mesmo capítulo volta para o presente. Mas, não é algo que atrapalhe a leitura, se pegar o jeito da coisa dá para entender bem, rs.

 

A premissa então se baseia nisso: um circo extremamente diferente e mágico que precisa ficar longe dos olhos do governo, e que internamente sofre com algumas disputas. Mas, não pense: “Ah, só isso?!”, pois os personagens são tão bem construídos que você só ira querer saber melhor sobre cada um deles. Além de que, nem sempre essas disputas são amigáveis, já que alguns são tão desprovidos de sentimentos que fazem qualquer coisa para conseguir o que desejam. E por incrível que pareça, o que mais me atraiu no livro foram as histórias dos personagens e não a trama em si.

A personagem que eu mais gostei foi Bird, ela entrou no circo para ser trapezista, mas após sofrer um acidente e ser remendada mais ainda por Boss, ficou com um olho de vidro e com a postura torta. É então que ela é colocada sobre a responsabilidade de Stenos, um acrobata, que precisa se apresentar com ela no trapézio. Os dois não se gostavam, mas após isso, vimos uma mudança de comportamento entre eles, não é amor, é algo mais profundo e singelo, um entendimento mútuo. Claro que todos os personagens são cativantes, mas a história dela me chamou mais a atenção.

(Durante toda a vida, Ying supôs que Elena fosse naturalmente cruel. Perguntava-se agora se a crueldade simplesmente surgia quando o mundo estava desabando e não havia nada mais a se fazer a não ser brigar.)

A edição está magnífica. A DarkSide mais uma vez fez um ótimo trabalho. É impossível ver o livro em uma livraria e não querer comprar. As ilustrações são lindas e a capa aveludada dá um toque a mais.