[Resenha] Belinda & Em

Autora: Cammie McGovern
Páginas: 400
Editora: Galera Record
Autora de “Amy & Matthew”, Cammie McGovern volta às livrarias contando a história de uma outra dupla desta vez. Emily sempre se orgulhou da sua capacidade de enxergar além das aparências. Copresidente da Coalizão para Ação Jovem da escola, é a primeira a defender os direitos das minorias. Mas, secretamente, Emily ainda é um pouquinho fascinada pelos populares da escola. E nutre um leve rancor quanto a sua inexistente vida amorosa. É justamente enquanto pensa nisso que a garota testemunha uma colega de classe com necessidades especiais, Belinda, ser atacada embaixo das arquibancadas da escola. E não faz nada. Emily e Lucas, outra testemunha passiva do ataque, são obrigados a prestar serviço comunitário em um centro de pessoas como Belinda. Logo os jovens começam a sentir que podem fazer uma diferença real.

Belinda & Em é o segundo livro que eu leio da Cammie McGovern, e mais uma vez a autora nos trouxe uma história delicada. O tema do livro tem um impacto muito grande, não só por retratar pessoas com algum tipo de deficiência, mas por estar atrelado a isso situações como bullying e abuso sexual. Como é angustiante ver assuntos tão importantes como esses relacionados à pessoas com uma visão diferente do mundo, que muitas vezes não conseguem ver a maldade das pessoas ao seu redor. Essa leitura é um tremendo choque de realidade no leitor, pois nos faz sair da nossa bolha e pensar sobre algo que muitas vezes não damos atenção.

Emily presenciou uma cena que poderia ter ajudado de alguma forma para que terminasse bem. Em um jogo de futebol, embaixo das arquibancadas, ela vê Belinda, uma jovem de 21 anos com necessidades especiais, sendo violentada por outro estudante. A garota entra em choque. Ela não entende bem se o que está presenciando é realmente o que pensa. Ela congela. Quando ela vê Lucas, um dos jogadores de futebol, também presenciando a cena, ela imagina que ele vá pedir ajuda, ou até mesmo fazer algo. Porém, nenhum dos dois faz nada. Quem acaba ajudando Belinda é ela mesma, que grita muito, chamando a atenção de um segurança.

Eu entendo que em situações extremas podemos não saber como agir, até mesmo por medo. Mas será que Em não poderia ter chamado alguém? Não poderia ter gritado? E Lucas, o que se passou na cabeça dele para não agir também? Esse foi um episódio que abalou a escola, até Belinda parar de frequentar as aulas e todos a esquecerem. Menos Em e Lucas, que vivem diariamente com a culpa por não ter feito nada.

Como punição, Em e Lucas precisam trabalhar como voluntários em um centro que oferece aulas para pessoas com deficiência. Lá, eles percebem que precisam fazer algo por Belinda. Porém, primeiro eles precisam conseguir se aproximar da garota, que apesar de tudo, não consegue entender em sua visão infantil porque nenhum dos dois a ajudou.

O que mais impressiona na trama é que a autora não denomina a deficiência de cada personagem, mostrando que isso não é o que realmente importa. Conhecemos cada um de forma única. E é muito emocionante o mundinho só deles e a forma que encontraram para serem aceitos por todos. A inocência de cada um com pequenas coisas me fez ter vários sorrisos bobos no rosto. Com eles aprendemos que precisamos aceitar uns aos outros como somos. 

A narrativa é divida entre Em e Belinda, e eu preciso confessar que preferi muito mais a visão de Belinda. Sua forma de ver a vida é incrível. E ao mesmo tempo triste. Sua narrativa sobre o fatídico dia é de cortar o coração. Assim como tudo o que passou antes e depois desse dia. Acompanhamos também um grande amadurecimento de Lucas e Em, apesar de ter sentido raiva pelos dois em alguns momentos, gostei de poder ver essa evolução deles, mostrando que eles possuem sensibilidade e se importam com o próximo. Belinda & Em é uma leitura emocionante, que precisa ser lida por todos. Uma história marcante, e nos dias de hoje, muito importante. Vamos cuidar como tratamos as outras pessoas. Mesmo se ela for tão diferente de você.