[Resenha] Quem teme a morte

Autora: Nnedi Okorafor
Páginas: 412
Editora: Geração
Numa terra devastada por uma hecatombe nuclear, uma jovem e misteriosa mulher com o incomum nome de Onyesonwu – que pode ser traduzido como Quem Teme a Morte – descobre que tem superpoderes e foi escolhida para salvar a humanidade. Este seria um romance distópico como qualquer outro se não transcorresse na África e sua autora não fosse a surpreendente Nnedi Okorafor, elogiada pelo prêmio Nobel nigeriano Woyle Soyinka. Fantasias, batalhas, tradições e alta tecnologia, sonhos, visões, discriminação racial e sexual, tudo se mistura numa narrativa tensa e poética que confere uma nova linguagem para os romances do gênero.

Eu não costumo ler muitos livros de fantasia, é quase como se eu tivesse ficado adulta demais para esse gênero literário. Mas resolvi aproveitar a oportunidade que a editora Geração me ofereceu e cai de cabeça nessa estória que apesar de futurista, tem sua essência centralizada na magia. E apesar do meu receio inicial, fui envolvida de uma forma bem positiva pelo enredo.

Essa aventura se passa na África, em um futuro não muito distante em que a Terra foi arrasada, e apesar de se passar no futuro, o que deu o toque especial no enredo foi justamente a magia envolvida. A protagonista, Onye pertence a um tipo de casta, se é que podemos chamar assim. Uma casta criada pela violência e mantida pela discriminação, mas desde jovem ela sente uma ligação com a magia e tem que enfrentar justamente as discriminações criadas pelos costumes e dogmas que ainda existem. Somado ao fato de termos uma heroína mulher, o que torna toda a aventura mais interessante.

É exatamente por isso que ele não quer ensiná-la! Você age como uma mulher. Suas emoções correm soltas. Você é perigosa.
Eu tive que me esforçar para não provar a observação de Mwita. 

E como não podia deixar de ser, toda aventura precisa de um bom romance, e a autora também não decepciona nesse quesito. Mwita, par romântico de Onye, e ao mesmo tempo rivais na disputa pelo aprendizado do sábio e feiticeiro Aro, agia algumas vezes com preconceito e inveja, mas a maior parte do tempo o romance é lindo e torci de verdade para que o caminho do amor fosse mais fácil para os dois.

E assim a conexão foi feita. Nós havíamos sido amigos, brigado, aprendido, rindo um com o outro, mas, nesse momento, percebemos que estávamos apaixonados. Essa percepção foi como ligar um interruptor. 

E enquanto tudo isso acontece, Onye se esforça para aprender tudo que precisa saber para cumprir a profecia destinada a ela antes da sua partida rumo ao desconhecido. Antes que a aventura a leve com Mwita e suas amigas ao destino previamente traçado para todos eles.

De acordo com minha mãe, todas as coisas estão determinadas. Para ela, tudo tinha um motivo, desde os massacres no oeste até o amor que ela encontrou no leste. Mas a mente por trás de todas as coisas, ao que eu chamo de destino, é dura e cruel. É óbvio que ninguém pode se considerar uma pessoa melhor se simplesmente se curvar diante do destino. O destino é imóvel, como um cristal, opaco na escuridão.

Uma das coisas que mais gosto de ler, é sobre personagens femininas fortes, dispostas a tudo pelo que elas acreditam, e esse é um desses livros em que eu me sentia orgulhosa a cada passo de progresso de Onye, como se fossem minhas próprias batalhas. E sim, o final não é exatamente o esperado, mas surpreendente o suficiente para que eu desejasse uma continuação.