[Resenha] Não conta pra ninguém

Autoras: Fernanda Omelczuk; Georgina Martins, Mariana G. M. de Faria e Vera Maia

Os oito contos que compõem esta obra são frutos de autoria feminina, revelam perspectivas sensíveis e densas ao tratarem de situações-limite, com estilos peculiares. Povoados por personagens adolescentes, que modulam de maneira bastante interessante vozes e pensares reveladores.

Não conta pra ninguém é um livro de contos em que quatro autoras se juntaram para falar de assuntos bem reais: preconceito, bullying, abuso sexual... Nesses contos conhecemos crianças e adolescentes que de alguma forma passaram por algo cruel e constrangedor, algo que acaba desfazendo toda a inocência que sentimos no início de cada história.

Eu adoro contos, mas esses mexeram mais comigo do que qualquer outro livro, pois trazem uma grande carga emocional, que choca e emociona o leitor. Cada trama é bem curtinha, mas esses oito contos conseguem transmitir sua mensagem. Vou falar um pouco daqueles que mais gostei.

Balde de água fria, da Fernanda Omelczuk, fala de uma menina que adora nadar. Na piscina, ela conhece o garoto mais incrível: Marquinhos. Ele parece tão querido, e ainda por cima parece gostar dela também, mas após uma festa, descobre que Marquinhos não é o que aparentava ser, não. Algo que vai mudar a vida da menina.

Leo e o super-homem, da Georgina Martins, conta a história de Leo, que desde criança gostava de brincar de casinha e bonecas. O pai nunca aceitou pensar que o filho podia ser gay, e sempre batia nele e o colocava de castigo. Leo cresceu reprimido pelos pais, mas a mágoa maior foi por seu pai não aceitar quem ele era.

- Maria, amanhã nós vamos sair para comprar umas roupinhas e aproveitar pra dar um passeio, você preciso conhecer a cidade grande, tem muita coisa pra conhecer, mas tem de ser devagar, sem pressa. Ele falava enquanto passava a mão nas minhas pernas.

Brincadeira de criança, da Georgina Martins, nos apresenta Maria, uma menina com muitos irmãos, que perdeu o pai, e desde então quem ajuda a mãe com comida é o tio Francisco. O ano é 1943, Maria nunca gostou das brincadeiras do tio de passar a mão em suas pernas, ou dos presentes: calcinhas. Porém, ninguém mais via que tinha algo errado nisso, e assim, deixaram ela ir morar com os tios, para cuidar da esposa doente de Francisco.... Lá, toda inocência de Maria foi tirada.

O julgamento de Felipa, da Vera Maia, começa com a seguinte cena: Felipa amarrada em uma cadeira na frente da sala toda, enquanto é "julgada" por perder o campeonato escolar. Por ser gorda, os alunos a ridicularizam mais ainda, e fazem diversas maldades. Será que ninguém vai ajudá-la?

Hora do recreio, da Mariana G. M. de Faria, nos mostra uma mãe adolescente. Quando estava grávida todos a paparicavam, mas após ter o bebê, virou a adolescente que fez burrada, e recebe vários olhares de pena dos professores e dos colegas.

Esses contos foram os mais impactantes para mim, mas na verdade gostei de todos. As autoras escrevem muito bem. Recomendo a leitura de Não conta pra ninguém.