[Resenha] Fera

Autora: Brie Spangler
Páginas: 384
Editora: Seguinte
Dylan não é como a maior parte dos garotos de quinze anos. Ele é corpulento, tem quase dois metros de altura e tantos pelos no corpo que acabou ganhando o apelido de Fera na escola. Quando ele conhece Jamie, em uma sessão de terapia em grupo para adolescentes, se apaixona quase instantaneamente. Ela é linda, engraçada, inteligente e, ao contrário de todas as pessoas de sua idade, parece não se importar nem um pouco com a aparência dele. O que Dylan não sabe de início, porém, é que Jamie também não é como a maioria das garotas de quinze anos - ela é transgênera, ou seja, se identifica com o gênero feminino, mas foi designada com o sexo masculino ao nascer. Agora Dylan vai ter que decidir entre esconder seus sentimentos por medo do que os outros podem pensar ou enfrentar seus preconceitos e seguir seu coração.

Fera, da autora Brie Spangler, é uma releitura de A Bela e a Fera, mas com um diferencial impactante e importante nos dias de hoje: o universo LGBT é retratado de forma sensível pela personagem Jamie. Além do tema preconceito inserido na trama, temos também a questão do ideal de beleza, e sobre se sentir bem consigo mesmo. Temos dois lados: Dylan que é muito alto e peludo, e que se acha feio, afinal, todos o apelidaram de Fera. E temos Jamie, que é linda e muito autoconfiante, mas, que por ser trans, acaba sofrendo preconceito das pessoas que não entendem seus sentimentos.

Os dois temas são extremamente importantes, e juntos criaram essa incrível história, que é linda e emocionante. Os personagens ganham nossos corações, e mesmo aqueles que ainda são um pouco relutantes no que se refere a identidade de gênero, irão perceber que o mais importante é como nos sentimos, que o corpo e a genética não nos definem completamente. Como é o caso de Jamie. Ela nasceu homem, mas sempre se identificou como mulher. E quando finalmente pode ser 'Jamie', se sentiu muito mais feliz.

Dylan, depois de cair de um telhado, acaba indo parar em um grupo de apoio. É lá que ele conhece Jamie, e os dois acabam se aproximando. A garota o entende como ninguém mais consegue. E não tem medo dele, o mais importante. Ele sabe que seus quase dois metros de altura e ser extremamente peludo pode ser algo assustador, mas também é muito solitário. Dylan encontrou em Jamie uma forma de ser ele mesmo. Mas, após descobrir que ela é trans, acaba tendo uma confusão de sentimentos, e o preconceito das pessoas acaba afetando sua própria opinião.

A atitude de se afastar e de esquecer tudo de bom que passou com Jamie é algo que faz o leitor odiar o personagem, mas ao mesmo tempo, como poderia ele não ter todos esses conflitos internos? Ainda mais quando ele já sofre preconceito por sua fisionomia, ter Jamie ao seu lado talvez piorasse as coisas. Tantos pensamentos passam por sua cabeça, e é difícil julgá-lo, é tudo muito diferente e novo.

Jamie é uma personagem muito admirável. Ela não se importa com o que os outros pensam dela. É corajosa, confiante e divertida. Vê o mundo através de sua câmera fotográfica de forma delicada e peculiar. Eu fiquei muito triste por ela ter que viver em um mundo que não sabe conviver com as diferenças.

Fera é uma leitura encantadora e que todos os jovens deveriam ler. A narrativa da autora nos mostra apenas a visão de Dylan, o que é uma pena, pois eu ia amar ter os sentimentos e pensamentos de Jamie expostos. Se eu não me engano, esse é o primeiro livro que eu leio com um personagem transgênero, e eu gostei bastante do tema. Pretendo ler mais obras do gênero. Recomendo a leitura!