sábado, 7 de julho de 2018

[Resenha] Dona Flor e seus dois maridos

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Autor: Jorge Amado
Páginas: 448
Editora: Record
Dona Flor E Seus Dois Maridos - Um dos romances mais populares de Jorge Amado, levado com êxito ao cinema, ao teatro e à televisão, Dona Flor e seus dois maridos conta a história de Florípedes Paiva, que conhece em seus dois casamentos a dupla face do amor: com o boêmio Vadinho, Flor vive a paixão avassaladora, o erotismo febril, o ciúme que corrói. Com o farmacêutico Teodoro, com quem se casa depois da morte do primeiro marido, encontra a paz doméstica, a segurança material, o amor metódico.Um dia, porém, Vadinho retorna sob a forma de um fantasma capaz de proporcionar de novo à protagonista o êxtase dos embates eróticos. Por obra da fantasia literária de Jorge Amado e da intervenção das entidades do candomblé, Flor consegue conciliar no amor o fogo e a calmaria, a aventura e a segurança, a paixão e a gentileza.
Lançada em 1966, esta narrativa ousada e exuberante, plena de humor e ironia, é uma saborosa crônica de costumes da Bahia da primeira metade do século XX e um retrato inventivo das ambiguidades que marcam o Brasil.


Nessa segunda experiência com Jorge Amado, admito que já entrei de cabeça cheia de expectativa e não me decepcionei. Apesar de não ter resenhado Tieta do Agreste – provavelmente por receio de não descrever o livro a altura da genialidade do autor – a segunda obra lida por mim me deu a coragem que faltava para uma resenha. Mas volto a repetir o que já mencionei em outras resenhas de obras de importância, não esperem uma análise do livro como um clássico, pois não é meu objetivo e não possuo o conhecimento necessário para oferecer uma avaliação profissional. Segue aqui apenas a opinião de uma simples leitora.

A despeito do que sugere o título, Dona Flor não é poligama, mas simplesmente uma jovem viúva de um marido que quando vivo, passava seus dias gastando o pouco dinheiro da esposa, bebendo em bares e apostando em cassinos. E após um ano de viuvez, ela decide casar-se novamente e acaba “assombrada” pelo fantasma do primeiro marido. A palavra assombrada vai entre aspas unicamente por se tratar de um fantasma, e não por Vadinho, o fantasma, literalmente aterrorizar ninguém. 

Gabava-se Vadinho de jamais ter estado doente e de ser capaz de atravessar oito dias e oito noites sem dormir, jogando e bebendo ou na farra com mulheres. E por vezes não passava realmente oito dias sem aparecer em casa, deixando dona Flor em desespero, como maluca? No entanto, ali estava o laudo dos doutores da Faculdade: era um homem condenado, figado imprestavel, rins estrompados, coração aos pandarecos. Podia morrer a qualquer momento, como morrera.

O segundo marido de Dona Flor, Doutor Teodoro é o extremo oposto de Vadinho. Homem honrado, trabalhador e de paz. E nossa honrada heroína, mesmo feliz no segundo casamento se vê nostálgica das noites de paixão com Vadinho. Então, quando o fantasma aparece, Dona Flor fica dividida, mas ainda sim decidida a fugir dos avanços de Vadinho, que a tenta a todo momento, questionando seu direito de marido legítimo, mesmo que morto, ao corpo da esposa.

Adultério? Adultério, como? – perguntava o maligno, se sou teu marido? Onde já se viu mulher tornar-se adúltera por se haver entregue ao marido legítimo? Não lhe jurara ela obediência ante o juiz e o padre? Onde já se viu, minha Flor de maracujá, casamento assim platônico? Um absurdo...

Ademais, a marcante característica nas obras do autor de descrever a vida de cada personagem, por mais insignificante que possa parecer, incrivelmente torna o enredo mais interessante e não o contrário como se esperaria nessas situações. E mesmo a mais entediante rotina do dia a dia se transforma em poesia nas páginas escritas por esse nosso ilustre literato que não poderia ter sobrenome mais apropriado. Afinal somente sendo amado para justificar tamanho dom na literatura.

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